30/11/2012

bom dia

O coração de Manuel Zacarias Segura Viola sabe que nascemos para perder, aliás começa logo nesse primeiro acto, onde perdemos o útero, depois perdemos a infância, a juventude, muitas vezes os amigos, demasiadas vezes o amor, perdemos a direcção, o caminho, o sentido e, às vezes, os sentidos, perdemos a utopia,  o querer, o desejo e, até, a vontade, perdemos a tranquilidade, o sono, o sossego ou a paz,  perdemos a disposição, a zona de conforto, o lugar e, também, o espaço, perdemos o segundo certo, os minutos, as horas e os dias, perdemos a cabeça, a razão, um pensamento ou a memória, perdemos a verve, a força, a virilidade ou, menos eufemisticamente, a tesão.
Para Zacarias podemos perder tudo menos a coragem de voltar a perder tudo de novo, depois, como dizia o avô de Zacarias, morreu fodeu-se.

momento frase feita


É escusado sonhar que se bebe; quando a sede aperta, é preciso acordar para beber."

Sigmund Freud

26/11/2012

almada x benfica

Banda sonora do telemóvel do puto no caminho para os treinos.









Nada mau apesar de alguns rap's que dispensava.


rockaway beach

e a distância de tudo


É um cancro nos pulmões, projectado no ar pelas palavras
e um odor fétido paira sobre todas as coisas
sobre o mármore fino dos balcões
sobre as árvores agora sem folhas
sobre a calçada dos passeios
sobre a terra alcatroada a negro
sobre a cinza dos mortos
sobre a ausência sem direcção.

É um cancro no estômago, que separa as entranhas
e um mal-estar constante que revolve o corpo
sobre a pele gretada no tempo
sobre a carne flácida na inércia
sobre as pernas cansadas
sobre os dedos sem tacto
sobre os ombros caídos
sobre a perda das horas.

É um cancro nos intestinos, tornados vísceras secas
e uma náusea solitária que encurrala o querer
sobre a vastidão confinada do espaço
sobre a erosão lenta das rochas
sobre o cimento armado dos edifícios
sobre a finitude da areia
sobre o granito das casas
sobre a espuma dos dias.

É um cancro na próstata, violada no desejo de vontade
e uma solidão profunda cavada na impotência
sobre um piano desafinado
sobre um pássaro mudo
sobre um contrabaixo sem cordas
sobre um cavalo domesticado
sobre um trompete sem boca
sobre o calor do fogo apagado.

É um cancro no cérebro, ampliado no imo do espírito
e a incerteza fotográfica de todas as imagens
sobre o passado sem história
sobre o presente sem futuro
sobre o livro sem palavra
sobre a voz sem som
sobre o peito sem nervo
sobre o pensamento perdido.


Sobre a vida
e a distância de tudo.

24/11/2012

escala de Jonet

O assunto já não é novo, mas continua a incomodar-me, não há dia que não me sinta vil e culpado por viver como vivo. Todas as manhãs, enquanto bebo a bica no Martins, só consigo pensar que estou a viver acima das minhas possibilidades, em casa podia beber o café por apenas 25 cêntimos, poupava 35 e não tinha de aturar o bigode mal-disposto do Martins todos os dias, já a Sra. do Martins desde que soube que eu era licenciado é Sr. Nelson para aqui Sr. Nelson para ali, embora eu continue a olhar para os lavagantes de lado quando passo pela montra, porque isso é só para os que vivem abaixo das possibilidades, os que vivem ao lado acho que se ficam pelos caracóis, babam-se muito entre o desejo de baixarem e o medo de subirem na escala de Jonet.
Depois estou sempre a fazer contas, se como demais, se preciso de tanta luz para ler mas se for pouca pioro dos faróis e tenho de mudar as lentes aos binóculos, se não gasto muito papel higiénico, por outro lado se for pouco sujo os dedos e gasto mais água e sabão macaco, ando o dia todo a cheirar-me para não tomar banho sem ser estritamente necessário que o gás está pela hora da morte e a água mais o sabão macaco também, se ando de carro gasto gasóleo, se ando a pé gasto as solas e fico com mais fome e gasto mais comida, suo mais e tenho de gastar mais água mais o, inevitável, sabão macaco, enfim, mais dilemas que uma tragédia grega, tragédia clássica atenção, não esta coisa moderna das troikas.
Por fim, ou melhor, no início, porque a bem dizer é assim que começa esta caldeirada toda, há o sexo, ainda estou para descobrir se acima ou abaixo das minhas possibilidades, mas como ainda não se paga, nem imposto nem nada, e como a ginástica feita me dá mais saúde física e psicológica (que as merdas da cachimónia estão na moda e não são para desprezar), com o dinheiro que poupo em ginásios, psis, terapeutas, medicamentos, estou inclinado para que seja abaixo das possibilidades não fosse o raio da fome desgraçada que me dá a seguir. Confesso que tenho comido muito, mas o que posso fazer se tenho fome e gosto muito de comer, além disto tudo este ano já fui a 4 concertos de rock e umas 5 peças de teatro.

12/11/2012

constatação à Jesus

A triste das realidades pá é que ainda vinvemos num cantinho, assim tipo, muita piquinino e salazarento ou lá o quéisso pá, que eu de políticas não percebo népias.
Cheira mal aqui pá. Quem é que se descuidou acima das suas possibilidades? Jo quê!
Esse já não joga no Benficas pás.

bom dia

Manuel Zacarias Segura Viola já não se espanta com muita coisa, mas num país de pseudos-muitas coisas, a pseudo-caridosa Jonet ainda conseguiu deixar Zacarias abananado e a sentir-se culpado por estar a comer uma banana, que, vendo bem, daria para alimentar pelo menos três ou quatro pessoas, ainda por cima logo após ter ingerido duas grandes batatas-doces, umas quantas castanhas e uns copos de tintol de garrafão. O coração de Zacarias contraiu-se só de pensar neste luxo acima das possibilidades e promete que no magusto do ano que vem, se ainda cá estiver, vai deixar meia banana, uma batata-doce, umas quantas castanhas e um copo de tintol para a Jonet dar aos pobrezinhos que andaram a viver acima das suas possibilidades. Com muito coração dá para imensa gente ó Jonet.

beatice

Tive o cuidado de ouvir as debatidas declarações de Isabel Jonet duas ou três vezes para assegurar que não me escapou nada e, sinceramente, não vejo motivos para tanto alarido. Jonet é o protótipo da beata fina que prolifera em Portugal. Vive num mundo altamente desfocado, alicerçado em dogmas ultrapassados. Aposto que votou contra a despenalização do aborto e que educa os filhos com base em livros escritos pelos seus amigos pedopsiquiatras, o que me levanta sempre sérias dúvidas relativamente à sanidade mental desses pais autómatos. As suas polémicas declarações misturam alguma realidade tangível (meio país viveu acima das suas possibilidades durante anos e anos - facto absolutamente indesmentível) com considerações um bocado imbecis resultantes daquela pose evangelista de amiga dos pobrezinhos.

texto integral aqui: http://hipocrisiasindigenas.blogspot.pt/2012/11/a-beatice_9.html

mundo de Jonet

Camarada Van Zeller, as ciganas do meu bairro excitam-me. As novas e as velhas. Estas porque vestem saias compridas, geralmente negras, não vão à cabeleireira e levantam-se cedo para apanhar caracóis. As outras porque parecem putas, vestem-se como putas, entram e saem de carros suspeitos, tal qual putas. E as putas excitam-me. As ciganas do meu bairro vivem no mundo de Jonet, apesar de não lavarem os dentes. Suponho que não os lavem porque ou os não têm ou os têm estragados. A pasta de dentes está pela hora da morte, não oferecem detergentes para a boca na benfeitoria, só sopa de caracóis. É preciso poupar para ir ao bowling beber café, já que não dá para ir ao concerto de rock. As ciganas do meu bairro nem sequer gostam de rock, o mais rock que ouvem é o Tony Carreira na grafonola do Mercado de Santana. Se alguma vez foram a um concerto, foram puxadas pelos carros suspeitos. Talvez tenham dançado ao som dos Lords nas festas em honra de Nossa Senhora de Jonet, à freguesia do Auxílio. Olho para as ciganas do meu bairro, este bairro do mundo de Jonet, e imponho-me uma estóica reaprendizagem de ser pobre. Isto de reaprender a ser pobre tem muito que se lhe diga, porque só reaprende a ser pobre quem já o foi e deixou de ser. Quem nunca foi pobre pode não ter sequer que aprender a sê-lo, bastando-lhe sugerir aos que já o foram que voltem a sê-lo. Eu quero ser pobre, eu ambiciono ser pobre, eu desejo ser pobre, preciso que me ensinem a ser pobre. Eu venho-me de austeridade. Por isso me levanto bem cedo, antes de ir para o trabalho, e fico a olhar as ciganas do meu bairro. Masturbo-me a olhá-las - as velhas apanhando caracóis, as novas ganhando para o Nestum - e confesso que tenho vivido acima das minhas possibilidades. Nada devo a ninguém, felizmente, mas a verdade é que vivo acima das minhas possibilidades. Contribuo para o banco alimentar, distribuo cigarros pelos carochos, fumo e bebo e vou ao cinema e ao concerto de rock. Só não vou à missa largar tostão no cesto de verga, não quero exagerar nesta coisa do despesismo. Sou um consumista indefectível, tenho asma, respiro mais do que o necessário, do MEO prescindiria não fosse ter a viver comigo uma família idiota. A minha família é idiota, vive num mundo de Jonet. No mundo de Jonet nós vivemos de uma maneira completamente idiota.

texto integral aqui: http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.pt/search?q=jonet

09/11/2012

caçar

bom dia

Manuel Zacarias Segura Viola não gosta de fazer aos outros o que não gosta que lhe façam a si, não gosta que os outros lhe façam o que não gosta de fazer aos outros, não gosta de não fazer aos outros o que os outros gostam que lhes façam, não gosta que os outros não lhe façam o que gosta que lhe façam, não gosta que os outros gostem de não gostar e não gosta de gostar de quem não gosta e, aqui, abre-se uma auto-estrada de infinitudes de nãos quando gosta é de sins.
O que o coração de Zacarias gosta mesmo é de gostar e da ratoeira do Tom também.

Viens, Viens

sexo

Gostava de entrelaçar os meus dedos no teu coração, agarrar-te o músculo com a palma da mão e sentir todos os batimentos no pulsar dos meus nervos, alinhar o compasso das batidas e afinar as palavras no pensamento que o sangue trouxe.

08/11/2012

é que os desafinados também têm um coração



Não há nada que me console, neste momento
Não há felicidade, não há tristeza
Não há amargura nem tão pouco raiva
Neste momento, não há nada que me console

DeZafinando em MIm
Só em MIm
Nesta vida de uma nota só 
Sozinha, perdida, deZafinada
Só em MIm
DeZafinando em MIm

Não há nada que queira, agora
Não há vontade, não há inércia
Não há mágoa nem tão pouco fúria
Agora, não há nada que queira

DeZafino em MIm
Só em mim
E em toda a escala
Nesta bruma feita vida
Gasta, corroída, vazia, errada
Em toda a escala deZafino em MIm
Só em MIm

Não há nada que lembre, sempre
Não há desafio, não há derrota
Não há vitória, muito menos glória
Sempre não há nada que lembre

DeZafinando sempre
Todas as notas e canções
Todas as palavras e poemas de uma vida
Feia, falhada, cansada
Todas as canções
DeZafinando sempre

Não há nada que faça, todos os dias
Não há desejo, não há interesse
Não há memória nem tão pouco pensamento
Todos os dias, não há nada que faça

DeZafinando em MIm,
sempre e só em MIm

Não há felicidade, não há tristeza
Não há amargura, não há raiva
Não há vontade, não há inércia
Não há mágoa, não há fúria
Não há desafio, não há derrota
Não há vitória, não há glória
Não há desejo, não há interesse
Não há memória, não há pensamento

Sempre e só em MIm
DeZafinando em MIm

Não há amor, não há verdade.

06/11/2012

mortos e mortos-vivos

Os mortos têm rostos imprecisos, a memória que lhes guardamos é como um corpo em decomposição. Com o tempo, tornam-se inidentificáveis. Até nada mais restar deles senão uma vaga certeza de terem existido, porque a própria existência dos mortos parece uma mentira.

aqui:  http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.pt/2012/11/mortos.html


E quando acontece o mesmo com os que estão vivos mas é como se tivessem morrido. Será que foram uma verdade ou uma mentira que o tempo levou?

shake it

bom dia

Manuel Zacarias Segura Viola gosta de frases feitas, daquelas que todos partilham no facebook como quem bate com a mão no peito aos domingos na igreja e, depois, passam a semana a fazer o contrário do que apregoam. Uma das frases deixou Zacarias confuso. Se a mente se enriquece com aquilo que recebe e o coração com aquilo que dá, a pergunta que se impõe é: na realidade o que é aquilo?