28/11/2008

digital e outras coisas

Daí a nostalgia. Faz-nos falta essa capacidade de inventar outros mundos que, no limite, nos devolvam o sabor da epopeia (veja-se ou reveja-se, justamente, O Rei Leão). Às vezes, até sentimos que o digital pode ser uma limitação: faz-nos falta a “imprecisão” dos traços desenhados pelas mãos humanas. Texto integral de João Lopes no Sound & Vision A questão do digital não se verifica apenas nas soluções precisas para o produto final, neste momento já existe uma geração de criativos e profissionais que cresceram, apreenderam e aprenderam somente esta técnica, ou seja, independentemente da técnica, o próprio pensamento já é digital. É aqui que reside o problema, pelo menos para quem estava habituado a uma forma de estar muito mais orgânica, não só nos processos de trabalho, mas, principalmente, no resultado final. A rapidez dos métodos significa uma maior rapidez de pensamento que, mal gerida, torna-se inimiga de epopeias ou da capacidade de inventar outros mundos que não seja qualquer coisa rápida, barulhenta e, muitas vezes, vazia ou pouco mais que vazia. Vi acontecer nas artes gráficas há cerca de 15 anos, na música pouco depois e no cinema logo a seguir. Muitos dirão que sempre existiu má música, filmes ou criações gráficas, é um facto, mas a questão aqui é toda uma mudança de mentalidade à qual dificilmente fugimos. Noto nos meus alunos de guitarra, nos miúdos do andebol que treino, nas bandas de bares que encontro por aí, aprendem e assimilam com uma rapidez impressionante, mas, de uma forma geral, são demasiado formatados, apesar do esforço que faço para procurarem outras soluções, imaginadas e criadas por eles, dificilmente saiem do previsto. Cebola num macdonalds? Nem lhes passa pela cabeça. Não pretendo com este texto criticar esta geração mas, por trabalhar bastante com crianças e jovens, tem sido algo com que me tenho debatido nestes últimos anos, até porque estou convencido que a criatividade, independentemente dos meios e da forma, existirá sempre.

27/11/2008

ao Nuno

de profundis I Navegando pelo mar, ausente, perdido na razão contraditória de uma ficção real, avisto uma paisagem que parece um sonho, que me pertence. Talvez? Mas é imensa e real esta sensação, de um lugar amplo onde o vento sopra, acolhendo o corpo como um braço macio, que penetra fundo, envolvendo-o profundamente na confusão. De repente, o mar cresce, atormenta-se, baloiçando ainda mais a ténue convicção desta imagem fantástica. Raros são os momentos de tão pura harmonia, em que os sentidos não são sentidos, em que ser não é ser. Ausência, total ausência. Mas será assim? Será possível? No fundo é só um sonho, o imaginário da ilusão que inunda o corpo de sensações. Mas depois há sempre um sinal qualquer que estremece esta opinião... Um pouco depois, vejo-me enrolado nas ondas, mas já não estão revoltas, simplesmente embalam-me, ternamente. Eu confundo-me com o meu sonho, se é que de um sonho se trata. Súbito, sem qualquer motivo, afundo-me, com tal rapidez que perco os sentidos. Mas nos sonhos não se perdem os sentidos. Acorda-se. Estranho! II Que luz é esta que tudo ofusca e não deixa ver nada, estarei dentro da minha própria ilusão. Que ausência é esta, serei uma ilusão iluminada por uma clareza cega. Mas lentamente começo a ver. Que enorme alucinação! Caberá tamanha alucinação dentro de um sonho? Vejo um mundo de cristal envolto numa grande bolha de água. E eu perdido, sem saber que caminho tomar, mas noto não existirem caminhos. Vagueio, vagueio sem sentido aparente... Sem dar por isso, encontro-me ao lado de pessoas e parecem-me familiares, mas não consigo distinguir feições. Parecem demasiado envolvidas em algo. Devagar começo a ver um pouco mais, nesta claridade vislumbro alguma nitidez. Parece que escrevem. Canetas iguais à minha? Porquê? Estranho! Apesar de confuso, surge-me, nitidamente, a sensação de que tudo é perfeito. Desenrola-se tudo dentro de uma cadência onde apenas a minha confusão diverge. Que abismo é este? Estarei dentro de mim? Serei um estranho dentro de mim? Entretanto, enquanto vagueio neste entendimento, um mundo inigualável corre pelos meus olhos. Como uma música de harmonias infinitas, como um comboio vagaroso numa linha sem fim... III Desfilando calmamente, como o comboio, vejo pessoas, muitas pessoas, com estranhas roupas, parecem-me roupas antigas, cada vez mais antigas. Todas me parecem familiares, as pessoas e as roupas também. Estranho! Por fim, apercebo-me que todas as pessoas são imagens diferentes de mim próprio, as caras, as roupas, os lugares. O tempo é diferente, mas sei que sou eu. Apesar do total desentendimento dos sentidos, reconheço, infinitamente, o meu espírito dentro deste mundo. Não sei se é sonho, ilusão ou o que quer que seja, mas o espírito vagueia, ausente, neste mundo que não sei qual é.

26/11/2008

Esquizofrenia

Richey Edwards, dos Manic Street Preachers, foi, ao fim de 13 anos, declarado morto pelo tribunal. Esquizofrénico talentoso despareceu para não aparecer mais até hoje. Infelizmente, sei bem o que é ter um esquizofrénico talentoso numa banda, quando partem a paz é maior mas a música não é bem a mesma. Manic Street Preachers Motorcycle emptiness Para o Nuno com amor e saudade.

25/11/2008

hipocondriaco eu?

A hipocondria, do grego hypo- (abaixo) e chondros (cartilagem do diafragma), também conhecida por nosomifalia, é um estado psíquico que se caracteriza pela crença infundada de se padecer de uma doença grave. Costuma vir associada a um medo irracional da morte, a uma obsessão com sintomas ou defeitos físicos irrelevantes, preocupação e auto-observação constante do corpo e até as vezes, à descrença nos diagnósticos médicos. A hipocondria pode vir associada ao transtorno obsessivo-compulsivo e à ansiedade. Wikipédia Se nunca pensei padecer de doenças graves, a morte não é coisa que acompanhe muito a minha vida, as únicas obsessões que tenho são aquelas duas que sabes, mas também se podem chamar desejo ou vontade. Também sabes que a minha orelha de abano sempre foi motivo de troça, mas que eu sou o primeiro a rir disso, raramente me vejo ao espelho e tenho uma crença quase absurda nos médicos, embora passem anos sem visitar um. Ansioso sou bastante, mas tirando uma excepção em 39 anos, sempre foi essa ânsia que me fez andar, querer, desejar, fazer. Hipocondriaco eu, porquê?

esquecidos ou talvez não

Echo and the bunnymen killing moon Devotchka We're leaving

24/11/2008

quem pediu?

Vaticano "absolve" John Lennon Artigo do ‘L’Osservatore Romano’ elogia a banda britânica The Beatles. Chegou ao fim a Guerra Fria entre a Igreja Católica e um dos maiores grupos musicais de sempre. Notícia do Correio da Manhã Já vou dormir mais descansado e o John Lennon, a arder no inferno, também. The Beatles Bad Boy

22/11/2008

álbum colorido

Quarenta anos depois do álbum branco um álbum muito colorido, venham mais quarenta. The Fireman Electric Arguments Nothing Too Much Just Out of Sight Lovers in a Dream Two Magpies

21/11/2008

Loverman

A propósito deste Loverman, faz 4 anos que vi esta versão ao vivo em New York. Grande versão e grande concerto. De resto tudo na mesma Cause I am what I am what I am what I am. Metallica
Ao acordar a minha voz é bela, nas duas primeiras frases da manhã atinjo os médios/graves com que sempre sonhei. Em mim, até a voz que mais gosto é efémera. Nick Cave Loverman There's a devil waiting outside your door (How much longer?) There's a devil waiting outside your door It is bucking and braying and pawing at the floor And he's howling with pain and crawling up the walls There's a devil waiting outside your door He's weak with evil and broken by the world He's shouting your name and he's asking for more There's a devil waiting outside your door Loverman! Since the world began Forever, Amen Till end of time Take off that dress I'm coming down I'm your loverman Cause I am what I am what I am what I am L is for LOVE, baby O is for ONLY you that I do V is for loving VIRTUALLY all that you are E is for loving almost EVERYTHING that you do R is for RAPE me M is for MURDER me A is for ANSWERING all of my prayers N is for KNOWING your loverman's going to be the answer to all of yours Loverman! Till the bitter end While empires burn down Forever and ever and ever and ever Amen I'm your loverman So help me, baby So help me Cause I am what I am what I am what I am I'll be your loverman! There's a devil crawling along your floor There's a devil crawling along your floor With a trembling heart, he's coming through your door With his straining sex in his jumping paw There's a devil crawling along your floor And he's old and he's stupid and he's hungry and he's sore And he's lame and he's blind and he's dirty and he's poor Give him more There's a devil crawling along your floor Loverman! Here I stand Forever, Amen Cause I am what I am what I am what I am Forgive me, baby My hands are tied And I got no choice No, I got no choice at all I'll say it again L is for LOVE, baby O is for O yes I do V is for VIRTUE, so I ain't gonna hurt you E is for EVEN if you want me to R is for RENDER unto me, baby M is for that which is MINE A is for ANY old how, darling N is for ANY old time I'll be your loverman! I got a masterplan To take off your dress And be your man Seize the throne Seize the mantle Seize the crown Cause I am what I am What I am what I am I'm your loverman! There's a devil lying by your side You might think he's asleep but look at his eyes He wants you, baby, to be his bride There's a devil lying by your side Loverman! Loverman!

19/11/2008

ainda o silêncio

A Maria João fez o favor de deixar esta delícia aqui, vão ver http://atrama.blogspot.com/2008/11/silncio.html, existe sempre alguém que explica melhor as coisas do que nós. John Cage about silence

17/11/2008

silêncios

«Foram momentos exemplares. Desde logo porque, ao contrário dessa obscenidade a que já assistimos diversas vezes (inclusive em Portugal), o público respeitou o silêncio. Depois, porque quem comentava teve o elementar bom senso, também nem sempre prevalecente, de assinalar o facto, de seguida assumindo por inteiro o seu próprio silêncio (peço desculpa, mas não retive o nome do comentador). Finalmente, porque graças a uma dessas maravilhas que um directo pode proporcionar, o silêncio foi de tal modo avassalador que foi possível ouvir as gotas de chuva que caíam nas superfícies metálicas do estádio. Para nossa desgraça existencial, a televisão pouco ou nada nos ensina sobre essa coisa nobre e difícil que é saber ouvir. O que aconteceu na abertura do Blackburn-Chelsea acabou por ser uma maneira singela, também ela simbólica, de resistir às vozes histéricas dos programas de “entretenimento”, ao alarido de alguns programas de debate em que todos se esquecem que a sobreposição de vozes é impossível de acompanhar e, enfim, aos sons violentos de muita publicidade. Não precisamos de ter vergonha de dizer que ouvir a chuva é uma arte esquecida.» Texto integral no sound +vision Há poucos dias acabei as obras no meu estúdio e a forma como tenho celebrado o fim de 5 meses de trabalho tem sido em silêncio. Sento-me e sinto-me a olhar o que fiz. Mais do que não passar som para fora, o que mais gosto neste meu espaço é o facto de não deixar passar ruído para dentro. Assim, posso construir o meu mundo de sons mas, sobretudo, de silêncios, algo quase impossível nos dias de hoje.

14/11/2008

verdade e mentira

Penso que acabamos por viver sempre em verdade, acho a mentira um engano, porque na realidade, no fim, o que fica foi verdade, mesmo que se pensasse, soubesse, desconfiasse que fosse mentira. Insónia: L' ENFER

clássicos

Hoje a falar com um amigo, ele dissertava sobre o clássico Gasganta Funda (assim escrevi, assim fica). Não sei se este http://www.tlavideo.com/results/index.cfm?searchtext=CAUGHT%20FROM%20BEHIND&sn=3628&g=0&v=4 é um clássico, mas sempre foi o meu preferido. Além disso teve mais sequelas que a Guerra das Estrelas.

13/11/2008

prémios precaridade

Podem ir aqui e votar, www.PremiosPrecariedade.net Vale a pena.

12/11/2008

Gosto quando me cantas no meio-sono e no meio-sonho enrosco a minha língua na tua e adormeço. Manu Chao Minha galera

07/11/2008

Gostava de desistir! Deitar-me com as árvores sobre a terra e parar, ficar quieto, totalmente estático. Desistir de tudo sem contemplações, de todos os pensamentos e movimentos e, simplesmente, existir porque estou lá. Como as árvores, firmes e robustas. Gostava de desistir! Confundir-me numa planície repleta de flores e parar na mistura aleatória de cores. Abandonando em cada pétala tudo o que conheço e aprendi e, simplesmente, existir em cada espécie. Ser todas as cores da natureza. Gostava de desistir! Inserir-me deserto dentro sobre as dunas e parar na imensidão do horizonte. Sossegando o cansaço da gravidade, de todas as recordações e enganos e, simplesmente, existir no crepúsculo que, breve, desponta todos os dias. Gostava de desistir! Afundar-me no oceano, ser uma onda e parar na areia infinita de uma praia, desaparecendo por entre cada pedaço e também os desejos, os sonhos e, simplesmente, existir em cada grão, tornando-me o infinito que não se encontra. Gostava de desistir! Elevar-me ao céu sobre as nuvens e parar, aconchegar-me nas várias formas, perdendo todos os contornos que sou e também o tempo, passado e futuro e, simplesmente, existir no presente, em todas as formas e contornos possíveis. Gostava de desistir! Perder-me no espaço com as estrelas e parar nos braços ternos de uma lua, desintegrando-se todo o corpo palpável e também o espírito e a alma e, simplesmente, existir na eternidade, num ponto qualquer do universo. Gostava de desistir! Mas não sei.

os besouros

O Lourenço descobriu isto, ainda bem para ele. It's All Too Much E já que estamos numa de George esta vai para o meu Marinho, hoje à noite vamos tocar isto. George Harrison While my guitar gently weeps

políticos

Luís Amado diz na SIC notícias, referindo-se a Guantanamo, "...penso que irá acabar com esse pequeno tumor...". Pequeno tumor? Eu me penitencio em relação às gafes. O meu pai, na sabedoria da idade, disse logo, não é ele que está a levar nos cornos.

06/11/2008

esquecidos ou quase 9

Nunca pensei por estes nesta rubrica, mas tendo em conta que telefonaram duas pessoas para a Radar a perguntar quem eram estes, estes aqui estão. E se nesta rubrica tem caído não só mas quase só curiosidades, estes, para mim, são um pouco mais que uma curiosidade. Escolham a versão que quiserem da música que provocou 2 telefonemas. NEW ORDER Blue Monday HARDFLOOR REMIX LIVE Esquecidos ou quase 1 esquecidos ou quase 2 esquecidos ou quase 3 esquecidos ou quase 4 esquecidos ou quase 5 esquecidos ou quase 6 esquecidos ou quase 7 esquecidos ou quase 8

coisas que me fazem impressão

Falar-se dos políticos e das campanhas, dando, em primeiro lugar, importância às falhas ou "gafes". Pensava que o mais importante seria o projecto, programa, ideias, sei lá, qualquer coisas assim.

05/11/2008

música

Parece que há mais gente a render-se aos Wild Beasts ainda bem. Aqui http://havidaemmarkl.blogs.sapo.pt/393840.html

USA

A vitória de Obama é fácil de entender, o que continuo sem perceber é como foi possível muitos dos eleitores de Obama terem ficado em casa na reeleição de W. Seja pela cor ou por uma nova encarnação de JC na terra, qualquer destes me parece um péssimo motivo para começar a transformar o mundo. Portanto, tenhamos fé. Johnny Cash I Am The Nation

04/11/2008

Depois de uma série de exames, que culminaram com uma desagradável endoscopia, parece que tenho uma gastrite do antro, coisa comum a 90% dos adultos. Nem um pouco de colesterol, triglicéridos, ácido úrico, nem um batimento cardiaco ao lado, nem uma úlcera, eczema, nada, tudo absurdamente saudável e normal, tal como a gastrite. E um cirurgião para a alma não há? Jeff Buckley Eternal life Eternal life is now on my trail Got my red glitter coffin man, just need one last nail... While all these ugly gentlemen play out their foolish games There's a flaming red horizon that screams our names And as your fantasies are broken in two Did you really think this bloody road would pave the way for you? You better turn around and blow your kiss hello to life eternal, angel Racist everyman, what have you done? Man, you've made a killer of your unborn son Crown my fear your king, at the point of a gun All I wanna do is love everyone And as your fantasies are broken in two Did you really think this bloody road would pave the way for you? You better turn around and blow your kiss hello to life eternal, angel There's no time for hatred, only questions What is love? Where is happiness? What is a life? Where is peace? When will I find the strength to bring me release? Tell me where is the love in what your prophet has said? Man it sounds to me just like a prison for the walking dead Well I've got a message for you and your twisted hope You'd better turn around and blow your kiss goodbye to life eternal, angel

Dizes que não tenho fé, mas tenho. Tenho fé que quando acabares de ouvir esta canção não irás dizer, esta música é triste. Jeff Buckley Hallelujah

02/11/2008

compreensão

A «compreensão» é um conceito admirável. Quando alguém diz que «compreende» já estuda discretamente as saídas de emergência. diz Pedro Mexia no estado civil. Eu penso que poderá ser muito mais do que isso. Mas o que sei eu?
Falhar. Falhar sempre. Falhar até que o falhanço fique desenhado da pele, no contorno das rugas, dos olhos, cavados na certeza de não ter desistido. Nick Drake Place To Be When I was younger, younger than before I never saw the truth hanging from the door And now I'm older see it face to face And now I'm older gotta get up clean the place. And I was green, greener than the hill Where the flowers grew and the sun shone still Now I'm darker than the deepest sea Just hand me down, give me a place to be. And I was strong, strong in the sun I thought I'd see when day is done Now I'm weaker than the palest blue Oh, so weak in this need for you.