31/12/2010
28/12/2010
natal
Que se foda o Natal mais a caridade com prazo de validade e as campanhas para ajudar aqueles que prejudicaram o ano inteiro, que se fodam os brindes, as ofertas, as promoções, os presentes, o trabalhinho a prazo.
Que se foda a virgem para ver se consegue parir alguma coisa de jeito.
ifoda-se
O Media Market de Alfragide fez uma promoção de 3 horas sem IVA para celebrar os 3 anos de actividade. Vi que o mesmo se passou em Londres e na Austrália, claro que aqui tem sempre pormenores peculiares inerentes ao ser portuga como afinal só receberem um vale de desconto no valor do IVA para futuras compras, mas o resultado é parecido.
Isto é o que temos numa sociedade com mais jornais, telejornais, internet com blogs, facebooks, telemóveis artilhados, ipods, ipads e ifoda-se que não quero viver neste mundo. Pelo menos podemos dizer, orgulhosamente, que é como no estrangeiro.
26/12/2010
o homem teórico
Sempre pensei que o mundo devia ser plano e navegasse pelo universo.
Como um barco fantasma à deriva pelo espaço,
sem tempo, sem mitos, sem deuses,
sem conceitos nem precisões.
A justiça embrulhada num papel largado ao vento,
o pensamento atirado para uma lua qualquer,
a filosofia transformada em estrume para adubar a terra
e o sonho a noção premente de continuar a navegar.
Mas não é.
Neste ideal ganho a noção das dores que me afligem e,
como um passo trocado, fico com comichão nas virilhas.
Cravo as unhas e coço, mas quanto mais coço mais cresce,
este sentimento inútil da inutilidade,
esta inutilidade inútil do sentimento e da comichão que não acaba.
Então, continuo a coçar até a carne ficar rosada,
quanto mais coço mais vivo fico,
quanto mais vivo fico mais vermelho estou, um fio de sangue desafia-me.
Olho-te pasmado e sigo-te o caminho,
vejo a trajectória e procuro um sentido,
observo-te, analiso-te, estudo-te e recolho a informação.
Insiro e processo todos os dados,
cientificamente,
entre todas as possibilidades apenas concluo que a comichão não me passou.
Só espero que não me passe para os colhões.
24/12/2010
23/12/2010
21/12/2010
15/12/2010
formidável mundo português
A minha filha acabou o 12.º ano e resolveu começar a trabalhar para pagar os estudos, opção que muito me apraz. O problema é que estamos em Portugal e, infelizmente, a Mafalda, que não percebia como é que eu não consigo emprego, rapidamente percebeu como funcionam as coisas neste cantinho acanhado.
Depois de procurar, lá recebeu uma resposta, há cerca de 2 meses, para promotora da ZON, coisas novas (produtos) para o maravilhoso natal, contrato só de 2 meses com a possibilidade de renovação (tanga), um ordenado razoável no que é um ordenado razoável em Portugal, uma merda, mas enfim. Entretanto, era suposto começar no início de Dezembro mas foi sendo adiado, nisto começou a ter formação, deram-lhe umas roupas e sapatos género "Espaço 1999", comprar passe, comer qualquer coisa, etc., o dinheiro começa a sair. Ontem, véspera de começar, ou seja um dia antes, 24 horas, telefonam a dizer que tinham gente a mais, talvez porque a Mafalda não se deixou ficar, lá disseram para ela ir trabalhar mas que tinha de fazer um exame médico às 15 h, isto às 11 da manhã, impossível estava a fazer de ama a um bebé, após mais uma ronda de muita negociação a miúda conseguiu que marcassem o médico para outro dia.
Hoje, já me telefonou a pedir para lhe levar dinheiro ou comida, é que era suposto trabalhar até às 16 h. mas vai ter de ficar até à meia-noite. Será que vão pagar as horas a mais?
Até começar a trabalhar já gastou cerca de 150 euros, com o que ainda vai gastar em alimentação, quando receber o primeiro ordenado, o que sobra deve dar para meia renda de casa. Ainda querem mais flexibilização, é que já parecemos aqueles artistas de circo que se enrolam todos neste rectângulo com cara de parvo a ocidente virado.
Não é formidável este Portugal.
13/12/2010
09/12/2010
07/12/2010
sofrimento
Aquela coisa do sofrimento foi uma brincadeira com as duas velhotas simpáticas que até serviu para as deixar mais bem dispostas. Felizmente só sofro de umas caganeiras quando a ansiedade aperta, nada que um chá de camomila ou outra paneileirice parecida não resolva e, no fundo, até era capaz de dar o meu dedo mindinho do pé esquerdo pela humanidade, com jeito talvez até o direito, com muito jeito talvez até mais qualquer coisa.
06/12/2010
testemunhas
Vinha de uma entrevista de merda para um emprego de merda e, nem a propósito, duas velhotas muito amorosas abordaram-me na rua para me dar este folheto.
Todo Sofrimento
ACABARÁ EM BREVE
Em algum momento na vida, você provavelmente já se perguntou “Por que há tanto sofrimento?” Há milhares de anos, o homem vem sofrendo, muito devido a guerras, pobreza, calamidades, violência, injustiça, doenças e morte. Nunca houve tanto sofrimento como nos últimos cem anos. Será que um dia isso tudo vai acabar?
Este primeiro parágrafo não é maravilhoso? Mas o melhor é que eles dizem que sim, o sofrimento vai acabar, e é em breve, ainda lhes disse que hoje me dava jeito, riram-se e disseram que não era o meu era o da humanidade, eu respondi, tá certo adeus e felicidades.
dezembro
Que se foda o Natal mais a caridade com prazo de validade e as campanhas para ajudar aqueles que prejudicaram o ano inteiro, que se foda os brindes, as ofertas, as promoções, os presentes, o trabalhinho a prazo mais os ordenados de merda. Que se foda a virgem para ver se consegue parir alguma coisa de jeito.
28/10/2010
um maluco em qualquer lugar
Mas, depois, pensaste conhecer o amor e a distância do mundo esbateu-se, começaste a ser a pele, começaste a ser corpo, começaste a ser gente. E sentias tudo, todo o tempo. E dominavas tudo, todo o espaço. Agora pensas dizer adeus e voltar ao princípio mas está tudo ao contrário.
27/10/2010
distraídos
Continuamos em grande, quase ninguém nota mas continuamos em grande. Há 3 semanas que praticamente não consigo vender um croquete, pastel ou chamuça, os clientes dizem-me que nem o meu produto nem outros, não se vende, até a pão vai para o lixo. Entretanto, o meu vizinho de baixo, amargurado com problemas pessoais graves, convida-me para um whiskey, uma garrafa cheia de pó mas com um líquido excelente começa a escorrer para os copos. Lançado, mais pela amargura do que pelo líquido, conta-me que no fim-de-semana foi para uma caçada numa herdade qualquer para a beira interior, homem simples foi com algum espanto que vê chegar um helicoptoro com alguns administradores do BES, mas, mais espanto ainda, quando ao primeiro se sucede o segundo, o terceiro, o quarto e até um quinto, não só com mais administradores ou coisa que os valha, mais umas meninas de mini-saia com enormes caixas cheias de camarão, navalheiras, lagostas e sei lá que mais. Depois mostrou-me uns papéis com umas contas que ia abrir para os filhos exactamente no BES e rasgou-os, disse que ficou enojado com o que viu dizendo que tem a 4.ª classe mas não é parvo. Pena será que os outros onde irá pôr o dinheiro são massa da mesma farinha.
Depois, vou ao Hospital ver um amigo ao qual rebentou uma úlcera e nem um lugar para estacionar o carro, nem pago, quando vou à merda do Fórum Almada para ir ao cinema tenho sempre lugares para dar e vender à borla e começo a pensar que realmente este País está bem, do melhor até, alguns de nós é que andam distraídos.
25/10/2010
20/10/2010
paradoxos
Este blog anda em serviços mínimos, um mestrado com muita leitura e pesquisa assim obriga. Assim, tenho andado um pouco a leste de orçamentos, aprovações, desaprovações, obrigações, irritações, desilusões, FMI's, cortes, crises e outras porcarias iguais. Estou em crise há mais de 6 anos, se é que alguma vez estive bem, não faço IRS desde mais ou menos essa altura, tenho vivido completamente à margem porque sempre que procuro trabalho, as situações que me são propostas são tão ridículas que chegaria ao fim do mês e gastava mais do que o que iria ganhar, é claro que tenho uma vida de merda, não consigo ir a lado nenhum, concertos, teatros, mesmo exposições só se não for muito longe, comprar livros, cd's, dvd's, etc., é impossível, mas, enfim, como para dar umas não tenho de pagar nada, nem para ver o mar ou as pessoas que passam, isto até anda, como um bêbado a cambalear mas anda.
Mas o que me trouxe mesmo aqui, são alguns dos paradoxos deste nosso belo canto à beira mar plantado. Tirei a minha licenciatura na famosa Universidade Independente e, realmente, não achei o curso nada de especial, tirando uma cadeira ou outra com bons professores, e, pensava, que era da falta de qualidade da instituição, engano meu, agora na Faculdade de Letras de Lisboa, exceptuando um caso extraordinário, a merda é a mesma.
Agora vou mas é trabalhar que o ordenado é alto.
13/10/2010
a dúvida
Será que um Homem chegado aos 40, depois de duas de 20 em cada braço, poderá sentar-se, calmamente, a pensar e, finalmente, ficar sozinho.
12/10/2010
come out and play - I'll go e já
Por volta dos 12 anos, quando comecei a ser um adolescente viril, esta menina fazia as delícias das minhas fantasias masturbatórias, era a única softcore que batia a minha literatura preferida da época, a Gina, Sylvia, Weekend Sex entre outras, como se isso não tivesse sido suficiente, acabou de editar um disco e continua um borracho.
assim foi, assim é, assim será
Diz-me, ó Rei, destruidor de Tróia, descendente de Atreu, como te hei-de saudar? Como te prestarei homenagem sem ir além nem ficar aquém do tratamento que te é devido? É que muitas pessoas apreciam mais o parecer do que o ser, ultrapassando assim os limites da justiça. Toda a gente está pronta a ecoar os gemidos de quem sofre, mas a mordedura da dor não atinge verdadeiramente o seu coração. Estes mesmos alegram-se com os felizes, assumindo idêntico aspecto, forçando os seus rostos a rir. Mas aquele que é bom conhecedor do seu rebanho não se deixa iludir pelas atitudes daqueles que, aparentando um espírito leal, o adulam com uma amizade aguada.
Ésquilo em Agamémnon mais ou menos em 450 a.C
10/10/2010
notícias
Ontem o telejornal da RTP trouxe-nos uma notícia engraçada. Parece que os portugueses são os que mais demoram a abandonar a casa paterna, se não me engano por volta dos 35 anos. A abordagem foi de uma superficialidade enganadoramente triste, com comparações, veja-se bem, com a Dinamarca, esse País muito pobre do norte da Europa, culminando a chamar meninos da mamã a estes portugueses.
Para quem saiu de casa dos pais aos 21 anos como eu, seria fácil embarcar nos propósitos desta pseudo-notícia, não fosse o problema da certeza dos 500 € de ordenado médio dos poucos contemplados até esta idade com um emprego/trabalho, acrescentando os recibos verdes, os contratos a prazo e a precaridade generalizada, o que sobra para pagar uma renda?
Claro que existem aqueles que vivem, desde tenra idade, sozinhos, em casas oferecidas ou com rendas pagas pelos pais, mas estes não são meninos da mamã, devem ser do papá.
04/10/2010
discursos
O concerto que dei no sábado, foi dos melhores dos The Verge, dúvido é que a organização nos volte a convidar, mas quem os mandou pedir um discurso sobre a República.
Bem o que interessa é que a Verga continua a crescer.
02/10/2010
os Bobos da corte
O concerto que vamos fazer hoje é integrado nas comemorações do centenário da implantação da República.
Não me parece que se tenha plantado grande coisa, mas, também, não se pode dizer que o solo seja muito fértil.
01/10/2010
27/09/2010
26/09/2010
aDeus
Primeiro o Homem tornou-se um actor, um jogador, e depois veio a religião.
Nikolas Evreinoff
Sempre fui um péssimo actor.
performance
The playing of social roles tends to deny or subvert the activities of a true self. Nietzche offers a metaphor of performance as a kind of alien force that takes possession of the self.
Marvin Carlson
18/09/2010
16/09/2010
boa noite
oh heavy
with a look of satin put round her face
with the devil peering close by
on the street
with a little boy charm and
anchors of wide heavy iron
at her feet
she whispers and cries
in harmonies
for her saltwater king
oh heavy
are you my boy with demons in your sleeve
they`re trouble placing razors and pins
underneath your feet
you my little boy charm with
anchors of wide
ship wrecked bloody open sea
you whisper and cry
in harmonies
for your saltwater queen...
15/09/2010
des prender
rentE
bilização
rotiniza
São
reci
bUH
rup
Atura
revolu
VIcionário
pa
Lavra
ú
~
alba
Atroz
isto é extraordinário
Vejam este entusiasmo, não é um orgulho.
E os 15 para lá e mais 15 para cá, não é outro orgulho.
Daqui http://lishbuna.blogspot.com/
pesca
O Figo gosta de Portugal mas gosta mais dele próprio, o Mourinho também gosta muito mas assim ao longe, outros ilustres da ciência, como o físico João Magueijo em Inglaterra ou outros nos EUA, no Canadá, também batem com a mão no peito, sou português, mas assim tipo, aquele país ali ao norte de África. Os meus tios e primos em NY dizem que lá também está muito mau, mas o tempo passa e eles não voltam.
Nós por cá vamos, mais que não seja à pesca, a semana passada o meu irmão apanhou um robalo com 2,5 kg, no sábado uma corvina com 3, ontem fui com ele não apanhou nada, hoje já telefonou a dizer que apanhou mais uma corvina ainda maior que a outra, fora outros mais pequenos, isto tudo com uma coisa que os pescadores chamam amostra, acho que é um isco de borracha, ou seja nem isco gastam.
Portanto, pesca, a pesca é que está a dar, vendedores não faltam, é ouvi-los todos os dias na TV.
Os pescadores
Os vendedores
órgãos pendentes
Como benfiquista ontologicamente burro, como todos aliás, também não concordo com formas de pressão e ameaças sobre órgãos independentes e autónomos, isto partindo do princípio que os órgãos são independentes e autónomos, infelizmente órgão independente e autónomo ainda só conheci um e está mais ligado ao campo da anatomia do que das instituições, quando é pressionado até aceito e às vezes gosto, agora ameaças são intoleráveis.
Quando era miúdo jogava à bola na rua com o Zé dos Ossos, o Paulo das Maçãs, o Piça Rara, o Tilau, entre outros que a memória não deixa lembrar, o Figo, obviamente nunca teve alcunha, mas aos 13 anos comecei a crescer e aquilo passou. Ora os nossos órgãos independentes e autónomos têm sido conduzidos por adultos que continuam a chamar mágico, harry potter, hulk, bigorna, trave mestra (ok, este foi inventado e também já não está lá), aos seus jogadores, ao outro chamaram-lhe orelhas, o que até achei bastante engraçado, foi aquela senhora de índole com o desdentado rottweiler Abel ao lado, tudo isto sendo uma alegria não deixa de ser estranho. Transponham para a literatura por exemplo, olha o troca letras com o figura de estilo, o apanha metáforas escreve bem mas o esdrúxulo é melhor, ali vai o anaculoto metido com o litote, cá para mim são esquisitos, olha a malandra da anáfora a dizer mal do oxímoro, pensando melhor se calhar éramos todos mais felizes.
Bem, existe sempre a hipótese de nos dedicarmos todos ao ténis, esse desporto limpinho e asséptico, onde a bola não é bombeada nem se fazem passes rasgados, não se pauta o jogo nem se faz a gestão do resultado, rematar com o pé que se tem mais à mão é impensável, não se criam desequilíbrios nem se tiram cruzamentos e muito menos se fazem manchas, que eles acabam sempre os jogos muito asseadinhos graças a deus.
Também há a pesca, mas aí um gajo tem de se habituar ao cheiro, sempre é natural que no ténis eles devem usar todos Rexona.
11/09/2010
liga Zon
No intervalo telefonei ao meu velhote e disse-lhe que não íamos ganhar, era impossível, não tanto pelo Guimarães que é uma boa equipa mas porque o arbitro não estava para aí virado.
Com mais Roberto ou menos Roberto, a jogar bem ou a jogar mal, é indiferente. Com estas caldeiradas já se foram 7 pontos.
Esta Liga é mesmo Zon de Sagres não tem nada.
10/09/2010
inspiração
Nosso curso de primeiro ano está quase concluído. Eu esperava inspiração, mas o sistema espatifou minhas esperanças.
Essas ideias passavam-me pela mente enquanto, no vestíbulo do teatro, eu punha meu sobretudo e lentamente enrolava o cachecol no pescoço.
De repente alguém me cutucou. Voltei-me e vi Tortsov.
Notara meu estado de desânimo e vinha indagar a causa. Dei-lhe uma resposta evasiva, mas insistiu, teimoso, fazendo uma pergunta atrás da outra.
- Como se sente, agora, quando está em cena? - perguntou, num esforço para compreender minha decepção com o sistema.
- É justamente essa a dificuldade. Não sinto nada fora do comum. Sinto-me à vontade, sei o que devo fazer, tenho um motivo para estar ali, tenho fé nas minhas ações e creio no meu direito de estar em cena.
- E o que é que você quer mais? Acha que isso é errado?
Confessei-lhe então a minha ânsia por sentir-me inspirado.
- Não me procure para isso. Meu sistema nunca fabricará inspiração. Pode apenas preparar um terreno favorável a ela. Se eu fosse você, deixaria de correr atrás desse fantasma, a inspiração. Deixe-o por conta daquela fada miraculosa, a natureza, e dedique-se àquilo que está nos domínios do controle humano consciente.
Ponha um papel na estrada certa e ele irá para diante. Ampliar-se-á, tornar-se-á mais fundo e, finalmente, levará à inspiração.
Constantin Stanislavski "A preparação do ator", edição Civilização Brasileira 2008, pág. 331
09/09/2010
entalado
Que fique exclarecido que não tenho nada contra a estimulação anal, só não gosto mesmo é de homens.
olha o felino
Regressando a esta enganadora e triste realidade, as costumeiras merdas deste cantinho cheiram cada vez pior. É tanta a mentira, a desgovernança, a desconversa, a soberba, que a vontade de dizer seja o que for é pouca.
Felizmente, também existem coisas realmente boas, aqui fica uma:
Um pequeníssimo excerto.
...A grande dúvida é: com que mão limpará o cu o entalado? Com a mão ferida ou com a mão suja?
para um viciado na realidade é mesmo assim
Quando confesso o meu repúdio radical pela mentira, toda a gente diz que sou louco. E eu não defendo que se diga tudo a toda a gente; acredito apenas que devemos viver em regime de verdade com as pessoas de quem gostamos. Há excepções circunstanciais? Há. Mas a regra, a minha regra, é a verdade.
O que é a verdade?, perguntava Pilatos. Também não sei, mas sei o que é a mentira. Uma mentira é uma declaração que sabemos falsa, feita com o intuito de enganar alguém. Fazer isso a quem gostamos, de modo intencional e repetido, é que é saudável? Garantem-me que sim. E eu regresso, mansamente, ao meu manicómio.
Pedro Mexia aqui http://a-leiseca.blogspot.com/
Quero voltar para o monte.
16/08/2010
penalty e penáltis
Arrancou o campeonato e, desde já, podemos dar os parabéns ao novo campeão. Tirando raras excepções, não acredito em campeões só pela excelência do futebol. Tal como o ano passado os penaltys assinalados a favor do Benfica deram um empurram para a excelente época, o penalty a favor do Porto e os que não foram marcados a favor do Benfica, nesta primeira jornada, definiram o rumo deste campeonato.
É preciso lembrar que esta já não é a Liga Sagres, mas sim a Liga Zon Sagres, e todos sabemos a quem pertence a Zon.
Agora vou para o monte mais uma semana, ver se o Ti'Joaquim tem uma explicação para isto.
13/08/2010
12/08/2010
vales mortos
A propósito deste texto http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/2010/08/conversa.html, e regressado agora de um Alentejo ainda mais profundo, sem mar mas com um Guadiana cada vez melhor, um céu estrelado e Marte a nascer-me à direita de onde me sentava a olhar para o norte até às tantas e, também, a conversar com o ti'Joaquim, homem de 85 anos que raramente saiu do monte onde vive, nunca teve instrução que não aquela que a natureza lhe foi dando e que mantinha uma conversa tão natural como o lugar onde estávamos, que quando íamos em grupo até ao café da povoação mais perto, parava naturalmente para fazer chichi ou, também naturalmente, dava uns traques ignorando quem quer que estivesse ao pé. Numa das nossas conversas, enquanto olhávamos as estrelas, diz convicto naquela pronúncia arrastada que isto do mundo é que está uma coisa bem feita, respondi provocando, há quem diga que foi Deus, ignorou-me e bem, prosseguiu, até dizem que há mais terra encoberta por mar do que descoberta.
Assim fomos conversando, noite após noite, e eu sempre a aprender.
04/08/2010
ao tonan
Xupa portugalês e sai do chão,
arrasa montanhas e dobra o colchão,
esta bardamerda é só uma ilusão
feita do cio vadio de um cão.
Dobra cabrão dobra,
inquina a certeza dessa ilusão,
os lençóis são uma cobra
tu o cio vadio de um cão.
E se a punheta também é foda
e a surpresa sempre à mão
cinco dedos sempre à roda
agarrados a qualquer situação,
estas palavras são a demora
de um estilo sem razão.
Xupa portugalês e xupa outra vez,
mas cospe o esperma para o chão
não vá sujar-se o colchão.
E depois de uns copos de xerez,
não penses que isto é uma ilusão
de quem perdeu a razão
ou de quem não sabe o que fez,
porque a punheta também é gente
que a muitos deixa contente,
e se por acaso perderes a noção,
lembra-te que a necessidade é premente
e o sangue vem do coração,
bomba frenética e quente
como a lava de um vulcão.
Dobra-te cabrão dobra e mancha o lençol,
desfaz-te nesse colchão,
enrola-te como um caracol.
Nessa certeza sempre à mão
és o vicio vadio com o cio de um cão.
31/07/2010
ao zé toino
E o tempo age,
solta as amarras e leva tudo,
o que foi, o que é e o que será.
E a noite leva a luz,
e o vento leva o pó,
e o pó leva histórias,
e as histórias espalham-se,
e o mar leva os grãos,
e os grãos desfazem-se,
e o tempo leva tudo.
E o tempo age,
e os poetas inventam,
e as palavras são vazias.
Porque o céu é apenas o céu,
o mar apenas o mar
e a terra apenas a terra,
porque uma palavra é, tão só, uma palavra,
e por muito que queira ser uma árvore,
não sou,
por muito que quisesse ser um rio,
não sou,
por muito que gostasse de ser a lua,
essa que os lunáticos gostam de enfiar nos poemas,
não sou,
e o tempo leva tudo,
as palavras também.
E o tempo age,
olá se age,
marca-se no corpo,
marca-se na alma (o que quer que esta seja)
e leva tudo,
leva a inocência,
leva a pujança,
leva a virilidade,
leva a saliva que nos faz dizer
e mata a sede,
e se isto for uma metáfora,
que seja boa e a possas embrulhar e oferecer a alguém,
e, já agora, leva o sentido que eu não quero,
porque o tempo leva tudo.
Se me deixar só um bocadinho da tua memória,
talvez consiga ser um pouco mais.
E o tempo agiu.
07/07/2010
parabéns
O patrão farto das faltas ao trabalho às segundas-feiras de determinado empregado que gostava muito de beber diz-lhe,
Ó homem mais uma segunda que faltou, assim não pode ser.
Morreu-me um familiar Sr. Carvalho, responde.
Morrem-lhe muitos familiares às segundas-feiras, diz o patrão.
Sim Sr. Carvalho é verdade, e tenho cá a impressão que na próxima semana vai morrer outro.
Esta estória e, principalmente, o contexto e a forma como é contada define o meu Pai, que faz hoje 70 anos. Agora imaginem 60 anos, começou a trabalhar aos 10, de estórias verídicas como esta, dava um belo conjunto de micróbios, vermes, parasitas, qualquer coisa assim.
02/07/2010
e ignoram meu ofício ou minha arte
Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.
Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte.
Dylan Thomas
01/07/2010
30/06/2010
ainda bem que escrevi logo de manhã
José Mourinho, novo treinador do Real Madrid, assumiu nesta quarta-feira a defesa de Cristiano Ronaldo, afirmando que não se pode tolerar que se atribua a um jogador as responsabilidades pelos resultados de toda uma equipa.
"O Cristiano pode ficar tranquilo e desfrutar as férias. Não permitirei na próxima temporada que se faça pesar sobre ele a responsabilidade de toda uma equipa", disse Mourinho à agência Lusa. Enquanto jogador da minha equipa permito-me fazer um comentário que não fiz desde o começo do Mundial: nas minhas equipas, quando ganhamos, ganhamos todos, quando perdemos, a responsabilidade é só minha", acrescentou.
"Os grandes jogadores marcam a diferença porque são melhores, mas as equipas são um conjunto", prosseguiu.
Sinto-me um autêntico special none, porque estas declarações que li agora vão ao encontro do que penso e escrevi de manhã. Ainda hoje me disseram que iriamos ver como seriam as relações do Ronaldo com o Mourinho. Para já começam bem, mas esta é a diferença entre treinadores que dão camisolas largas para os jogadores jogarem à vontade e os que lhes espetam com camisas de forças e depois ainda dizem que se forem apertadas de mais que fiquem em casa.
"Enquanto estiver à frente da selecção, se o tamanho da camisola for pequeno demais para algum corpo, então não precisam de estar aqui", considerou o técnico, numa conferência de imprensa que serviu de rescaldo à campanha portuguesa na África do Sul.
Agora vou ali à rua de cima dizer que sou o special none e oferecer-me para treinar os Os Pastilhas, o clube onde ainda joguei com o Figo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Futebol_Clube_%22Os_Pastilhas%22
respeitinho
Este jornalismo, descrito em baixo, no desporto em geral e no futebol em particular, ganha, como se fosse possível, uma dimensão de avalanche. Que melhor exemplo do que este campeonato do mundo, em que numa fase inicial, a fase do cume, se deu a ideia que seriamos campeões, porque tínhamos o melhor jogador do mundo, porque somos o Brasil da Europa, porque os nossos jogadores são os mais bonitos e têm as unhas arranjadas e tudo, esquecendo-se que fomos apurados para o mundial com uma sorte incrível e que, ao contrário de Felipe Scolari, Carlos Queiroz nunca conseguiu fazer uma verdadeira equipa, que fosse segura e eficaz.
Depois vieram as más exibições nos jogos de preparação e a neve começou a derreter, de repente caiu o primeiro bloco, a estória do Nani começou a ter contornos de romance policial com espionagem à mistura, afinal o homem até teve de ser operado, logo a seguir, a péssima exibição com a Costa do Marfim faz cair mais outro bloco de neve, para alguns ainda existiu a desculpa do primeiro jogo e da força da selecção Marfinense, nunca esteve em causa as capacidades dessa selecção mas sim as incapacidades da nossa, vieram os sete a zero à Coreia e, qual João Garcia, já estávamos no pico dos Himalaias outra vez, sem se perceber que essa foi uma vitória sem substância, em que na primeira parte o resultado até podia estar em 1x1, e que o que aconteceu na segunda foi mais fruto do acaso e da desorientação dos outros do que mérito nosso. Com o Brasil foi mais do mesmo, uma selecção apática com a desgraçada da lebre (Ronaldo) no meio dos lobos, mas como foi um jogo com os nossos irmãos brasileiro em que até já estavam as duas selecções apuradas e não perdemos, é claro que podiamos ser campeões do mundo.
Até que chega a Espanha, uma verdadeira equipa que até na derrota, fruto dos acasos do futebol, com a Suíça, mostrou um futebol consistente e até apaixonante, naturalmente perdemos. A avalanche ganhou uma velocidade tal, que as normais declarações de Ronaldo fizeram espetar o nacionalismo bacoco, mais as bandeiras cheias de buracos, contra a parede, ainda por cima querem levar o rapaz atrás, como se já não lhe bastasse, fruto da estratégia medrosa de Carlos Queiroz, andar a jogar sozinho contra 4 defesas de metro e oitenta para cima todo o campeonato. Se eu estivesse no lugar dele ainda dizia pior.
jornalismo
A falta de jornalistas séniores, por exemplo. A televisão portuguesa, no seu conjunto (mais aplicadamente na RTP, o que é estranho — e muito menos na SIC), abdicou da presença de jornalistas séniores. Na CNN, Sky, CBS, etc., entregam-se os momentos «mais solenes» ou apenas «mais importantes» a jornalistas seniores. Pessoas que já leram, que não embarcam na primeira histeria, que relembram uma história relacionada (coisa só possível com memória, cultura e, até, experiência), que são capazes de traçar a biografia de um entrevistado em quinze segundos sem destruir a oportunidade (por exemplo: no funeral de Saramago, reduzir Guilherme Oliveira Martins a presidente do Tribunal de Contas), que não reduzem o material de apoio a dois prints mais recentes da internet (já leram, pois), que não caem na primeira treta que alguém deixa cair perto do microfone, que têm a noção da maneira como se deve fazer uma pergunta sem ofender o senso-comum (a jornalista aproxima-se de um táxi à hora do jogo Portugal-Brasil e quer saber por que razão está ele ali a ouvir o relato pela rádio, e não diante da televisão: «Porque está aqui e não foi ver o jogo? Está a trabalhar, é?»).
Aqui: http://origemdasespecies.blogs.sapo.pt/1198273.html
O fascínio que tinha pelo jornalismo acabou quando, em Julho de 1993, um jornalista da então recente SIC, perguntou a um dos pais de uma criança falecida nas piscinas do aquaparque o que sentia naquele momento. O corpo da criança tinha acabado de ser encontrado.
Depois disto só podia ser a descer e a descida tem sido vertiginosa.
puxando a brasa ainda mais
Gostava ainda de salientar que a logística para o trabalho da Mafalda foi bastante complicado, porque apesar da mãe viver na zona, o horário de trabalho não lhe permitiu ajudar a filha, a não ser facilitando um ou outro contacto. Depois ainda teve o azar de perder o disco onde tinha todo o trabalho, tendo sido preciso recorrer a um especialista de informática para recuperar as fotos no computador da mãe e voltar a enviar para Portugal. Como se não bastasse, há três semanas, enquanto preparava o texto final, teve uma infecção no umbigo que a obrigou a ser submetida a uma cirurgia e ficar 3 dias no Hospital, mais uns quantos em casa cheia de dores.
Mesmo assim, o tal plano B nunca lhe passou pela cabeça. Deixo aqui apenas três fotos do trabalho, quando puder deixo o trabalho todo.
Uma mãe
Alunos no intervalo
Uma sala de aulas
Se alguém me explicar, de forma que eu entenda, onde é que a cor faz falta a estas fotos eu agradeço.
29/06/2010
cabeçadas
Ontem, fui com o meu pai e o meu filho ver a apresentação do trabalho final do curso profissional de fotografia da minha filha, equivalente ao 12.º ano.
Num auditório com boas condições, aluno após aluno os trabalhos eram apresentados, o júri era constituído por uma repórter fotográfica do jornal Sol, uma representante do sindicato dos jornalistas para a parte escrita, o professor acompanhante do trabalho, a directora de turma, a coordenadora do curso e o director da escola. Até aqui tudo bem, apesar de me parecer exagerado a quantidade de pessoas para analisar trabalhos que, na maior parte dos casos, demoravam 5 minutos a serem apresentados. O que me deixou relativamente espantando e ao meu pai verdadeiramente estupefacto (outra geração, outro profissionalismo, outros hábitos) foi a pseudo-avaliação proferida por aquelas eminências, com excepção para a coordenadora e a representante do sindicato. Os primeiros quatro trabalhos, além de fotograficamente pobres, os respectivos alunos falavam como se estivessem numa amena cavaqueira com o colega do lado, ou seja, eram tipos para aqui e tipos para ali com fartura, depois passavam uma dúzia de fotografias num silêncio confrangedor. O júri elogiava ora o tema, ora uma fotografia ou outra mais bem conseguida, ora a personalidade do aluno que tinha tido o bom-senso de abandonar o plano A e seguido um plano B mais simples e etc.
O meu pai completamente banzado encolhia os ombros na minha direcção.
O panorama depois melhorou um pouco, mas as palavras do júri eram, basicamente, as mesmas. Quando chegou a vez da Mafalda, apresentou um trabalho sobre o povo Macua, tribo de Moçambique, em que além da qualidade das fotografias, juntou um discurso linear sobre cada uma das fotos, onde os costumes eram explicados sem, tão pouco, o recurso a uma cábula que tinha levado, o que para quem tinha estado semanas com aquele povo e sabia bem do que estava a falar não terá sido difícil, chegando ao ponto de comover uma parte da sala e até um elemento do júri, acabando a apresentação, que durou cerca de 15/20 minutos, com um ditado tradicional Macua, "Viver só é apodrecer."
A primeira intervenção foi da menina do Sol que perguntou o porquê da opção pelo preto e branco. A Mafalda sorriu dizendo que já sabia que essa iria ser a primeira pergunta e responde, calmamente, que além de um gosto pessoal por trabalhar a preto e branco, entende que a cor, por vezes, pode desviar a atenção dos pormenores a que quer dar importância, além que, neste trabalho, simbolizava também a simplicidade da vida daquelas pessoas. Resposta daquela pessoa que parece que é fotografa no jornal Sol, "Pois, mas para mim África é cor e, além disso, 28 fotografias é demasiado para uma foto-reportagem." Ok, ficámos a saber que para aquela sra./menina, África é cor e que não interessa a qualidade das fotografias nem da história que contam, o que interessa é que deviam ter cor e ser menos porque concerteza deve ter mais que fazer que aturar 28 fotografias de uma miúda que não conhece de lado nenhum. Porreiro pá, já agora segue o rumo dos jornalistas do Público e vai fotografar o que vai acontecer, talvez acontecer ou mesmo não acontecer aos futebolistas norte-coreanos. E para não ser maçador com tanta banalidade, passo ao director da escola que foi o último a falar, disse que a Mafalda não podia defender as opções num trabalho só porque gosta, ou seja, só apanhou a primeira frase que a miúda disse na resposta da opção pelo preto e branco o que, tendo em conta a cara de frete que tinha, me parece perfeitamente normal.
Para mim nada disto foi novidade, mas para o meu pai, afastado da vida profissional há cerca de 10 anos, embora com mais de 40 anos de experiência em artes gráficas, fotografia, publicidade, foi um choque tremendo ver o estado a que chegámos, nem tanto os putos, mas a banalidade, a incoerência, a sobranceria dos professores/profissionais do júri deixaram-no verdadeiramente enervado, tive de o aturar o dia todo.
Muitos poderão pensar que a questão genética poderá estar a toldar a razão, principalmente do avô, mas nesta casa a crítica implacável é ponto de honra entre todos nós e mesmo sobre nós, é uma família onde se fala muito e, às vezes, alto, onde não existe reverência aos mais velhos mas entendimento, nem que seja à cabeçada.
25/06/2010
melgas
Existem pessoas que admiro, mas depois não percebo coisas como esta http://daliteratura.blogspot.com/2010/06/isto-vai-la.html
Parece aquelas telenovelas mexicanas mal dobradas.
24/06/2010
o castelo
Nos últimos meses, a falta de dinheiro para comprar e de pessoas para me emprestarem livros obrigam-me a reler autores, Boris Vian, Tennessee Williams, Kafka, Milan Kundera, que fui lendo entre a adolescência e os vinte anos. Limpo o pó, as palavras surgem-me agora muito mais nítidas do que há vinte e tal anos atrás.
Há males que vêm por bem, infelizmente não encontro "O Castelo" do Kafka o livro que mais prazer me deu a ler, até hoje.
22/06/2010
movimento circular
No teu reflexo procuro esse gesto tornado imortal, um movimento circular projectado para lá do tempo, para lá da memória, para lá do horizonte longínquo que tento vislumbrar. Na distância voa o pensamento, pacienta a esfinge, que se solta da alma e parte. Esperar é a virtude da negação animal que outrora fomos.
a um deus risível
Será que esta gente das Igrejas, lideres e seguidores, não percebe que um ateu se está nas tintas para infernos, purgatórios e, ainda mais nas tintas, para estas purgazinhas terrenas.
dor
Penso, logo existo é uma frase de intelectual que subestima as dores de dentes. Sinto, logo existo é uma verdade de alcance muito mais geral e que se aplica a todo o ser vivo. O meu eu não se distingue essencialmente dos vossos pelo pensamento. Muitas pessoas, poucas ideias: pensamos todos pouco mais ou menos a mesma coisa, transmitindo, tomando de empréstimo, roubando as nossas ideias uns dos outros. Mas se alguém me pisa um pé, sou só eu quem sente a dor. O fundamento do eu não é o pensamento mas a dor, o mais elementar de todos os sentimentos. Na dor, nem sequer um gato pode duvidar do seu eu único e não permutável. Quando a dor se torna aguda, o mundo desvanece-se e cada um de nós fica a sós consigo mesmo.
Milan Kundera in "A Imortalidade"
e o Carnaval?
Acho que todos nós devemos repensar o que andamos aqui a fazer. Bom é que nos divirtamos, que vamos à praia, à festa, ao futebol, esta vida são dois dias, quem vier atrás que feche a porta – mas se não nos decidirmos a olhar o mundo gravemente, com olhos severos e avaliadores, o mais certo é termos apenas um dia para viver, o mais certo é deixarmos a porta aberta para um vazio infinito de morte, escuridão e malogro.
José Saramago “Cada vez mais sós”, in Deste Mundo e do Outro, Ed. Caminho, 7.ª ed., p. 216
17/06/2010
o Zé Maria de Setúbal
Alguém me explica porque é que o Paulo Ferreira foi de Setúbal para o Porto, do Porto para Londres (por muita massa), se mantenha por lá tanto tempo e ainda seja constantemente jogador da Selecção que é a Portuguesa.
Este jogador faz-me lembrar o Melhoral que não faz bem nem mal, ou como diz o meu velhote "esta selecção era o Paulo Ferreira na praia, o Deco numa SPA a recuperar de uma lipoaspiração àquele cu, o Danny a treinar para a Volta a Portugal, o Simão a fazer uma reciclagem rápida a ver como jogava no Benfica e o Carlos Queiroz a treinar os sub14 de qualquer coisa."
explosões
Lembrei-me de tudo isto no dia em que Portugal esteve suspenso da explosão do CR7. Para nada.
Eduardo Pitta aqui: http://daliteratura.blogspot.com/2010/06/o-pais-das-vuvuzelas.html
O Ronaldo explodiu, os outros é que resolveram implodir e jogar sozinho nem o Eusébio.
16/06/2010
vuvuzelando
Agora gostava de ver o discurso dominante da força da técnica e da técnica da força, dos múltiplos e enfadonhos comentaristas/especialistas/analistas/professores/profetas e sei lá mais o quê, explicarem como é que a selecção que, de longe, melhor e mais bonito futebol jogou perdeu?
Eles entraram pela direita, pela esquerda, pelo centro, remataram dentro da área, fora da área, com os pés, com a cabeça e, por vezes até com outras partes do corpo, mas perderam. he viva la espana
Os mais espertos irão dizer "é futebol", pois é pá, mas V. Exas. é que parece que falam de uma ciência exacta, eu cá apressava a união ibérica e punha o Ronaldo mais o Coentrão a jogar na selecção espanhola e aí é que era tudo nosso, aliás deles, ou melhor, de nosotros.
Entretanto, a saloice portuguesa continua espalhada por esse mundo fora, espalhando a boa nova de um fado tão triste quanto estes novos tempos em que temos de viver.
Vai mais uma sopradela na vuvuzela.
And the Band Played Waltzing Matilda
When I was a young man I carried my pack
And I lived the free life of a rover
agora sinto-me alegre e inspirado
Agora sinto-me alegre e inspirado em chão clássico;
Mundo de outrora e de hoje mais alto e atraente me fala.
Aqui sigo eu o conselho, folheio as obras dos velhos
Com mão diligente, cada dia com novo prazer.
Mas, noites fora, Amor me mantém noutra ocupação;
Se apenas meio me instruo, dobrada é minha ventura.
E acaso não é instruir-me, quando as formas dos seios
Adoráveis espio e a mão pelas ancas passeio?
Compreendo então bem o mármore; penso e comparo,
Vejo com olhar tacteante, tacteio com mão que vê.
E se a Amada me rouba algumas horas do dia,
Em recompensa me dá as horas todas da noite.
Nem sempre beijos trocamos; falamos sensatos;
Se o sono a assalta, fico eu deitado a pensar muitas coisas.
Vezes sem conto eu tenho também poetado em seus braços
E baixo contado, com mão dedilhante, a medida hexamétrica
No seu dorso. Em sono adorável respira,
E o seu hálito o peito me acende até à raiz.
O Amor atiça a candeia entretanto e pensa nos tempos
Em que aos Triúnviros seus o mesmo serviço prestava.
Johann Wolfgang von Goethe, in "Elegias Romanas"
a espessura da felicidade
Viver com o coração na boca e a razão no peito a doer,
desatino inquieto que sou.
Nisto,
faço coisas e gosto das coisas que faço,
não pela importância,
amanhã cai um calhau na terra e lá se vão as importâncias,
tantas,
mas,
enquanto por cá se vai andando,
não ficarei com a cabeça entre as orelhas a olhar o céu à espera do calhau.
Aqui,
donde sou e onde vivo,
é o que sinto,
cada vez mais sou a espreitar por entre as nuvens à espera do nada,
cada vez mais vivo a espreitar por entre as nuvens à espera de tudo,
e,
apesar do que me prende e como para nada já chega o pouco que sou,
apetece-me partir.
As pessoas costumam dizer que querem ser felizes,
outros dizem mesmo que são felizes,
mas a felicidade não se anuncia ou deseja,
a felicidade cumpre-se.
E se é ridículo dizer que se é feliz,
também nunca vi ninguém dizer que quer ser infeliz.
Mas a questão nem é essa,
este eu que figuro quer lá saber de ser feliz.
Agora tentar seria bom.
09/06/2010
Canto dos Espíritos sobre as Águas
A alma do homem
É como a água:
Do céu vem,
Ao céu sobe,
E de novo tem
Que descer à terra,
Em mudança eterna.
Corre do alto
Rochedo a pino
O veio puro,
Então em belo
Pó de ondas de névoa
Desce à rocha liza,
E acolhido de manso
Vai, tudo velando,
Em baixo murmúrio,
Lá para as profundas.
Erguem-se penhascos
De encontro à queda,
— Vai, 'spúmando em raiva,
Degrau em degrau
Para o abismo.
No leito baixo
Desliza ao longo do vale relvado,
E no lago manso
Pascem seu rosto
Os astros todos.
Vento é da vaga
O belo amante;
Vento mistura do fundo ao cimo
Ondas 'spumantes.
Alma do Homem,
És bem como a água!
Destino do homem,
És bem como o vento!
Johann Wolfgang von Goethe, in "Poemas"
dust in the sun
Preciso do deserto, onde o abismo se suceda em dunas suaves e na planície encontre a sombra e na sombra encontre o vento e com o vento venha o silêncio.
Água fresca que me alimenta.
imortalidade risível
Os prestidigitadores gostam de manipular chapéus. Fazem desaparecer dentro deles objectos, ou tiram de dentro deles pombas que voam para o tecto. Bettina tirou do chapéu de Goethe os feios pássaros do seu servilismo; e dentro do chapéu de Beethoven (por certo que sem querer) fez desaparecer toda a sua música. Reservou a Goethe a sorte de Tycho Brahé e de Carter: uma imortalidade risível. Mas a imortalidade risível espreita-nos a todos; para Ravel, Beethoven seguindo em frente com o chapéu enterrado até às sobrancelhas era muito mais risível do que Goethe, inclinando-se profundamente.
Por conseguinte, ainda que seja possível compor-se a imortalidade, modelá-la de antemão, manipulá-la (lembremo-nos das três rosas de Miterrand!), ela nunca se realizará tal como foi planeada. O chapéu de Beethoven tornou-se imortal. Desse ponto de vista, o plano teve êxito. Mas o sentido que o imortal chapéu viria a assumir, isso ninguém podia prevê-lo.
Milan Kundera, in "A Imortalidade".
08/06/2010
mordendo a própria língua
A filosofia salvou-me a vida. A verdade é que não sou homem a quem a sorte tenha bafejado. Se uns nasceram com o cu voltado para a lua, e outros com o rei na barriga, eu nasci com o cu voltado para a crosta terrestre e pedras nos intestinos. Vivo entre dois pólos, é certo, pelo que me considero metade urso, metade pinguim. Mas a filosofia salvou-me a vida, ajudou-me a olhar o mundo com outras perspectivas, ajudou-me a fintar o azar, ou a má-sorte, se é que me faço entender. Noto isso nas coisas práticas da vida. É um facto que não tenho sorte alguma, mas também não deixa de ser um facto que, não tendo sorte alguma, aprendi a driblar a sorte com a filosofia.
Texto integral aqui http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/2010/06/erros-meus-ma-fortuna-ilusao-ardente.html
Quando alguns músicos contam histórias mirabolantes sobre como conseguiram atingir o sucesso, ou fama, ou o que quiserem chamar, a minha realidade misturada com o meu sentido prático desconfia. Falando só de portugueses, lembro-me de um que diz que estava a tocar na praia para os amigos, passou um gajo de uma editora e tumba, contrato feito. Lembro-me de outro que vendeu um piano para gravar um disco e catrapumba, milhares de exemplares do mesmo vendidos. Ainda me lembro de outro que acho que é o mesmo, que fez uns dedos do meio ao Cavaco num concerto na Costa de Caparica e a seguir pum pum cada bala mata um, a ponte parou com tiros e tudo, resultado, mais uns milhares de discos vendidos. Outro, este mais perto de mim, conta a história do desgraçadinho, que o pai lhe partiu a primeira guitarra, que as dificuldades eram assim e mais assado, mas que ele pontapeou sempre esse estigma com uma grande dedicação e uma vontade ainda maior (oh que caralho a puta da vontade) e superou tudo e todos, a tal ponto que todos foram fugindo dele e ele fugindo de quem deve dinheiro, apesar de não lhe faltar.
Eu também já contei algumas histórias da carochinha, já toquei na praia, bem como noutros locais públicos, nunca tive um piano para vender mas já troquei cromos valiosos, a vontade, essa grande puta, ainda não me faltou, também devo dinheiro, mas só às finanças que os outros não têm culpa da minha falta de sorte. Com tudo isto e mais algumas, o sucesso não quer nada comigo, ver se vou à TV, espantalho-me pelo chão e parto alguns dentes mais uma fractura exposta da tíbio-társica para ver se tenho sorte.
É verdade, há sempre aquela coisa do talento, mas por aí os caminhos ainda me parecem mais estranhos e os karmas mais bizarros.
O que é que me resta fazer?
os rostos da nossa miséria
01/06/2010
perfumes de Portugal
Hoje, fui ao banco levantar o cheque do concerto, a maravilhosa CGD. Qual o meu espanto quando chego e deparo-me com um balcão totalmente remodelado, cheio de mármores, granitos, vidros de qualidade, parecia que estava a entrar no Taj Mahal, enfim, um luxo. Estando a falar de um balcão num edifício com apenas 12/15 anos na Cova da Piedade em que que a única diferença é que os mármores e granitos antigos eram mais escuros mas, ainda assim, de grande qualidade, dei por mim a pensar na crise, depois nos balcões dos bancos nos EUA, com acabamentos reles com uma série de anos, depois nos ordenados daqueles desgraçados que trabalham algumas 10/12 horas por dia para o que ganham dar para pagar a renda da casa, do carro e pouco mais, e apeteceu-me fugir logo dali e voltar de noite para lá por uma bomba.
A pobre desgraçada que me atendeu não percebia porque é que eu queria levantar o dinheiro todo do cheque, ainda era uma quantia razoável, nem me dei ao trabalho de lhe explicar que não tenho conta bancária nem quero nada com bancos e que aquelas obras recentes só me confirmava esta convicção de me manter a milhas desta economia nojenta.
Depois vou para o centro de Almada para encadernar uma peça de teatro que escrevi para levar ao Benite, que me esperava no Teatro de Almada, e, das muitas lojas que faziam este tipo de trabalho, só uma se mantinha aberta, mas já não tinha este serviço. Numa Almada verdadeiramente bonita, verdadeiramente renovada, cheia de passeios, de árvores, ruas sem carros, cheia de esplanadas com reformados e reformados compulsivos de 30/40 anos a beber um café e uma água da torneira que o dinheiro não chega para os passeios, para as estátuas e, principalmente, para manter as lojas abertas, novamente chega-me uma vontade de largar umas bombas e destruir tudo.
Controlada a vontade, lá chego a uma nova loja com o tal serviço, por sinal mesmo em frente, ou melhor atrás, do Teatro. Felizmente, a conversa com o Benite corre muito bem. Saio satisfeito e prossigo, ainda me falta fazer alguns clientes dos salgados, em cinco cafés e restaurante não tenho uma encomenda que seja. Pudera com tanto reformado compulsivo a água del cano estou à espera de quê. Mas, também, que interessa isso, o que interessa é comer aqueles mármores luxuosos e aqueles passeios largos cheios árvores, bostas de cães e Benjamins para nos cagarem em cima.
Ao menos chegamos a casa perfumados dos pés à cabeça.
28/05/2010
27/05/2010
26/05/2010
liberdade
Gostava de ter um cão, lembro-me da antiga casa da minha avó com quintal e de um rafeiro de nome Caim que saltava de alegria sempre que eu chegava da escola. Apesar de ser um animal bem disposto e até meigo não era um daqueles cães amaricados pelos donos e, também, nunca virava a cara à luta se fosse caso disso, principalmente com o pastor alemão da vizinha em frente que era irascível. O tempo passou e morreu de velhice era ainda eu uma criança, como vivi sempre em apartamentos pequenos e com muitos humanos atarefados nunca quis ter outro Caim, acho uma violência para os humanos e ainda mais para os animais, depois começaram a aparecer as mariquices dos veterinários mais o não poder comer restos nem roer ossos, as ruas inundadas de dejectos que são cagalhões mesmo, as trelas e sei lá que mais, com tudo isto a vontade de ter um cão foi ficando reduzida à liberdade que nunca conseguiria cortar ao animal.
Talvez um dia, se conseguir o espaço que um cão merece.
25/05/2010
21/05/2010
road to nowhere
Precisas de uma estrada que te leve, não importa o lugar, não interessa o caminho e muito menos a chegada, precisas de ir, se o vento te levar melhor.
19/05/2010
história
Meia duzia das muitas bandas que vi nascer e algumas também morrer logo de seguida na incrível.
O baterista deste último teledisco é o Alfredo, que lá estará com a PA e a fazer o som de palco.
rock in crível
O papa in Rio já foi, agora vem o Rock in Rio mas, também, vejam só, o Rock in Crível, o que não sei bem o que é mas não interessa, estarei lá a tocar nessa sala incrível onde, desde os 11 anos, já vi centenas de concertos, alguns muito bons.
O cartaz está mesmo lindinho, ou não tenha sido o meu mano a fazer.
Agora os meus 3 ou 4 leitores que mexam o cu e venham até lá nesse dia.
18/05/2010
14/05/2010
banda sonora desta semana
Tudo foi dito cem vezes
E muito melhor que por mim
Portanto quando escrevo versos
É porque isso me diverte
É porque isso me diverte
É porque isso me diverte e cago-vos na tromba
Boris Vien
Go straight to hell boys
A lot of people wont get no supper tonight
A lot of people wont get no justice tonight
After all this time to believe in jesus
After all those drugs I thought i was him
Run rabbit run
Strike out boys, for the hills
I can find that hole in the wall
And I know that they never will
I fought the law and the law won
I fought the law and the law won
I fought the law and the law won
I fought the law and the law won
I fought the law and the law won
I fought the law and the law won
I fought the law and the law won
Should I stay or should I go now?
13/05/2010
especulações
Desde que fechei a minha empresa que não estava numa gráfica como estive hoje, junto da máquina de impressão a sentir o cheiro da tinta e do papel, ainda por cima uma bomba a seis cores a imprimir como se não existisse amanhã. Se por via das emoções, os cheiros mas também o ritmo compassado da impressão, vieram as saudades do tempo em que fazia os livros para a Assírio & Alvim, a colecção Rei Lagarto com o José Afonso, o Frank Zappa, a biografia de Jim Morrison "Daqui Ninguém Sai Vivo", ou da colecção O Imaginário com livros da Sylvia Plath, do Boris Vien, Tennessee Williams e muitos mais, pelo lado racional não consigo esquecer os problemas com os vigaristas que não pagavam, com a velocidade dos publicitários que só funcionavam com a força da coca e, pior ainda, com a prepotência de um Estado mau pagador, cheio de cunhas e travessas para se conseguir um trabalho e, ainda muito pior, com uns serviços de justiça e de finanças que não lembram ao melhor de Kafka.
Por tudo isto, quando me chegam com a história do esforçar mais, eu respondo que sempre me esforcei em quase tudo o que faço, só que nos últimos 6 anos faço-o só para mim e não lhes dou nada.
10/05/2010
32
Este título que o SLB acabou de ganhar soube a pouco para uma época em que o futebol praticado merecia também a conquista da Liga Europa. Este Benfica foi impressionante, até na forma como, nesta última jornada, soube dar uns minutos de esperança a uns quantos portugueses, não só para a conquista do título como da bola de prata. Se o título é inquestionável, já a bola de prata assentaria bem a Falcão, excelente jogador, não fosse o sadismo de Cardozo em marcar o golo final com o pé direito.
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