28/04/2010

até ao fim

Chamas, dá-me as chamas. Nesta loucura que é pouco mais que a certeza da inconsequência, só um bocado, um pedaço, uma terra, um país, um continente, um mundo, o universo, um tanto que é só isto, nós e a nossa eternidade ilusória, sem palavra, sem expressão, sem conjecturas, sem falácias, sem engano, sem política, apenas nós até ao fim. E as chamas onde estão?

27/04/2010

cromos

Cromo andamos pelo mundo experimentando a morte dos brancos cabelos das palavras atravessamos a vida com o nome do medo e o consolo dalgum vinho que nos sustém a urgência de escrever não se sabe para quem o fogo a seiva das plantas eivada de astros a vida policopiada e distribuída assim através da língua... gratuitamente o amargo sabor deste país contaminado as manchas de tinta na boca ferida dos tigres de papel enquanto durmo à velocidade dos pipelines esboço cromos para uma colecção de sonhos lunares e ao acordar... a incoerente cidade odeia quem deveria amar o tempo escoa-se na música silente deste mar ah meu amigo... como invejo essa tarde de fogo em que apetecia morrer e voltar Al Berto

prozac

Em quase todas as sociedades ocidentais, dois terços ou mais das pessoas dizem que são «felizes». Eis a felicidade como «estado de espírito declarado», isto é, como auto-ilusão. Quando uma pessoa anuncia que é «feliz», há um contentamento narcísico nesse anúncio, mesmo que o facto seja manifestamente falso. Conheço gente com vidas miseráveis que repete bem alto que é «feliz». E também conheço, em muitos casos, a medicação que eles e elas tomam para que a sua «felicidade» brilhe. As pessoas que se dizem «felizes» estão interessadas em obter o estatuto de «felizes», em serem reconhecidas pelos outros como pessoas felizes, mesmo que isso seja um logro. Dizem que são felizes como alguém diz que comprou um objecto que está à venda. Esperam que esse objecto as torne mais completas. Pedro Mexia aqui: http://a-leiseca.blogspot.com/2010/04/um-objecto.html Também sou feliz. Onde é que deixei a cabeça?

mais um combate

por aqui me fico

aqui vou

Não, não é cansaço

Não, não é cansaço... Não, não é cansaço... É uma quantidade de desilusão Que se me entranha na espécie de pensar, É um domingo às avessas Do sentimento, Um feriado passado no abismo... Não, cansaço não é... É eu estar existindo E também o mundo, Com tudo aquilo que contém, Com tudo aquilo que nele se desdobra E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais. Não. Cansaço porquê? É uma sensação abstracta Da vida concreta — Qualquer coisa como um grito Por dar, Qualquer coisa como uma angústia Por sofrer, Ou por sofrer completamente, Ou por sofrer como... Sim, ou por sofrer como... Isso mesmo, como... Como quê?... Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço. (Ai, cegos que cantam na rua, Que formidável realejo Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!) Porque oiço, vejo. Confesso: é cansaço!... Álvaro de Campos

26/04/2010

paz

Conta-me histórias de amor e de glória, com palácios e jardins de jasmim e princesas e unicórnios que me levem deste estado errático e transformem esta canção na espiral que me vai domar. Talvez assim encontre a paz.

22/04/2010

verão

De todas as maneiras Que há de amar Nós já nos amamos Com todas as palavras feitas pra sangrar Já nos cortamos Agora já passa da hora Tá lindo lá fora Larga a minha mão Solta as unhas do meu coração Que ele está apressado E desanda a bater desvairado Quando entra o verão Chico Buarque

um soneto

Diz-me o vento que faz lá fora que a calma que aparenta é engano por mais que finja a toda a hora a ninguém mente sempre ufano e a poeira que leva faz dano mágoa seca que não se vai embora mas na melhor nódoa cai o pano onde se veste e sopra agora. Noutra tentação vejo-te frio em outra ainda sinto-te quente noutra, talvez contente e assim fazes-me um arrepio de contrastes e de vontade vento que és e também liberdade. J. Paiva

21/04/2010

213253

Ofereceram-me o Kit de sócio do SLBenfica, foi-me atribuído o número 213253. Querem ver que o homem ainda chega mesmo aos 300000.

campeonatos

O campeonato aproxima-se do fim, só espero que o Benfica seja campeão no Porto com um penalty daqueles em que o Di Maria depois de fazer um túnel a um adversário tropeça no vento e cai, depois o Cardozo manda um tiro a 150 Km/h em que a bola bate nos dois postes, na trave e ressalte para fora da grande área, aparecerá então o Luisão que fará um carrinho levando tudo à frente empurrando a bola para a área novamente onde, atarantado, o Weldon mete a mão na bola que ressalta no árbitro bate nas costas do guarda-redes e entra. Depois, naturalmente, milhares de benfiquistas sairão à rua um pouco por todo o País, incluindo a bela cidade do Douro.

20/04/2010

os mornos

Léautaud escreveu que o afecto é o amor dos mornos. E a Bíblia diz que Deus vomita os mornos. aqui http://a-leiseca.blogspot.com/ Eu gosto destas frases mas depois fico sempre a pensar, o que é o afecto, como se mede o afecto, é um acto ou uma sequência de actos, é uma atitude, é uma opção de vida, é uma festinha na cabeça, é um beijo na face, é um linguado até às entranhas. Depois o que deus vomita não me interessa para nada.

19/04/2010

fragmento de frio

Porque cegamos No dia que sai connosco, E porque vimos o nosso hálito Embaciar O espelho do ar, A nada se abrirá O olho do ar Senão à palavra Que renunciamos: o inverno Terá sido um espaço De maturidade. Nós que nos tornamos nos mortos De outra vida que não a nossa. Paul Auster

17/04/2010

efeito de estufa

Mas que raio de mundo é este onde por causa de um vulcão que resolveu deitar umas poeiras para o ar fica tudo a queixar-se. São os Srs. Presidentes e afins que não podem viajar, são os turistas amontoados em aeroportos que não vão mas também não chegam mais, são os produtos frescos que se estragam e até são as flores que fenecem, ainda por cima na época dos casamentos vejam só. O mundo realmente anda um pouco para o agitado, antologia do esquecimento: 2012 mas porra que isto não é nada. Então e se fossem 3 vulcões ao mesmo tempo. Somos mesmo umas florzinhas de estufa com mais efeito ou menos. E que tal mais uma imperial e fiquem para mais uma dança ou então ponham os pés a caminho, sempre emagrecem.

é assim

É só a vida, é só um bocado, um bocadinho assim bem inho, um instante como o sol do meio-dia que passa e deixa um travo de água fresca na garganta.

desejos

Como corpos belos de mortos que não envelheceram e estão fechados, com lágrimas, em esplêndida tumba grandiosa, com rosas na cabeça e nos pés jasmim - desse modo parecem os desejos que desapareceram sem serem cumpridos; sem nenhum deles ser dignado assim com uma noite do prazer, ou amanhã dele luminosa. Konstandinos Kavafis

um soneto

Deste fado a um tempo descompensado Na agonia de voltas e tormentos Neste vislumbre de combate e sofrimento Conta-se o perdido e o achado E num vago espaço de entendimento Encontra-se o compasso passado Na voracidade de um minuto chegado Resta a memória e o pensamento E se na ventura se achou o engano e se na acção prevaleceu a liberdade e se na batalha se venceu uma guerra Volta fado a três tempos humano que a agonia também é vontade passado, presente e futuro que encerra. José Paiva

16/04/2010

midletown

Sobes no elevador elevando o corpo mas não os sonhos. Na subida conheces uma pequena mulher Japonesa, saia curta, óculos redondos, sorriso genuinamente feliz, onde procuras numa espécie de inglês a receita da felicidade. Chegas ao cimo sais, despedes-te e ela sorri novamente, atrás as portas fecham-se encerrando com elas uma percepção de felicidade. No cimo do Empire State Building olhando a imensidão da cidade. BRUNO Já viste a imensidão? JACK Sim, visto cá de cima parece-me tudo bastante sereno. BRUNO Sereno? JACK Sim. Tão imenso que as casas não passam de casulos, os carros as asas e as pessoas pequenos insectos. BRUNO O quê? JACK Então não vês? Visto daqui até os carros são quase todos amarelos. Quais abelhinhas para cá e para lá e também alguns zangões pretos. Não vês? Uma mancha amarela vivo confunde-te, não são raios de sol mas indianos, paquistaneses, turcos, mexicanos, colombianos e sei lá que mais, conduzidos pelos táxis amarelo vivo. Bela cor esta que te tira um esgar de sorriso, que perdes rapidamente na mediania indiferente que figuras. BRUNO (ri-se) És louco. (riem-se os dois) JACK (sarcástico) Ovelhas de poderes fictícios, olha ali vai uma negra. Mascaramos a nossa animalidade nesta azáfama. BRUNO (ainda a rir) E tu és o quê? E nós os dois somos o quê? JACK Animais racionais, julgamo-nos inteligentes e não sabemos apreciar a natureza, a única coisa real que temos. Queremos o quê, segurança? BRUNO Sim, porquê não? JACK Olha, porque estamos aqui tão seguros da nossa pseudo-segurança cai um calhau na terra e acabou. Finito. (sorri) BRUNO Um calhau? Essa é boa mas não é novidade, já caíram vários e voltarão a cair, mas entretanto achas que devemos ficar a olhar para o céu à espera do calhau não? JACK I not my dear, I not. BRUNO (sério) Porque não podemos ser só uma massa desconfiada de nós mesmos, devorada por uma razão demasiado consciente. Não disseste que éramos animais, então sejamos animais em toda a nossa bestialidade, comendo, bebendo, mas também rindo, chorando. JACK (interrompe alegre) Fodendo parece-me bem. Onde vamos logo à noite? BRUNO (ri-se) Tu! Voltas ao passeio sem calçada, na apatia és mais um entre muitos, mas sabes que do alto do Empire State Building não foste mais que uma Midletown de ti próprio.

por outro lado

Quando estive a trabalhar nos EUA, sentia-me profundamente dividido entre o dinheiro que ganhava, o prazer que tinha em viver em NY e a necessidade de estar ao pé dos meus filhos, ainda por cima numa fase muito importante na vida de uma criança, neste caso duas. Numa conversa séria que calhou com um tipo com quem até nem existia grande química no relacionamento, um emigrante rabugento já com 30 anos de América, no fim disse-me com as lágrimas nos olhos: "Vim para aqui há 30 anos e só pensei ficar 5 ou 6 anos e voltar, mas, entretanto, quando mais ganhava mais queria ganhar, quanto mais tinha mais queria ter, passaram mais de 30 e ando por aqui, sozinho. Quando vou a Portugal o meu irmão vive numa casa tal como eu, a minha irmã vive numa casa tal como eu, têm carro como eu, comem bem ou melhor que eu e fazem-no em família, enquanto eu estou para aqui sozinho, os meus filhos são adultos e a infância deles não passa de umas memórias retorcidas de meia dúzia de dias passados em férias, agora quero voltar atrás e não posso e quando estou em Portugal sinto-me deslocado". Passado 3 semanas estava a apanhar o avião de regresso a Portugal e o tipo passou a ser o Sr. Cardoso, um dos meus maiores amigos durante o resto da estadia.

dar-me ao trabalho

Existem algumas pessoas que me perguntam porque é que com os meus estudos e experiência profissional ando a vender e entregar congelados. Talvez porque consigo ganhar cerca de 1000 € por mês em 2 dias de trabalho por semana sem aturar patrões, colegas, nem chefes com azia ou talvez porque os empregos a que me candidato na minha área estejam já comidos por filhos, sobrinhos, primos e afins de gente com outros nomes. E emigrar outra vez? This indecision's bugging me

dar-se ao trabalho

Sou quase um vagabundo, sem um tostão. Esta cidade fatal, Antioquia, devorou todo o meu dinheiro: esta cidade fatal com sua vida extravagante. Mas sou jovem e tenho excelente saúde. Prodigioso mestre de grego, conheço Aristóteles e Platão de ponta a ponta, bem como qualquer orador, poeta ou outro autor que se possa mencionar. Em assuntos militares não sou ignorante e tenho amigos entre os funcionários regulares mais velhos. Tenho também um certo conhecimento de questões administrativas. Passei seis meses em Alexandria no último ano; uma coisa que sei (e isto é útil) sobre o que acontece por lá: a corrupção e a sujeira e tudo o resto. Portanto creio que sou inteiramente qualificado para servir este país, minha amada pátria, a Síria. Em qualquer trabalho em que me coloquem me esforçarei para servir meu país. Esse é o meu propósito. Mas, de novo, se me entravarem com seus sistemas – nós os conhecemos, esses sabidos: precisamos falar disso agora? – se me entravarem não será culpa minha. Procurarei Zabinas primeiro, e se aquele idiota não me der valor, irei ao seu rival, Gripos. E se aquele imbecil não me der uma mão, irei imediatamente a Hircano. De qualquer modo, um deles me quererá. E a minha consciência está quieta acerca de minha indiferença à escolha: todos os três são danosos à Síria na mesma extensão. Mas – homem arruinado – não é culpa minha. Estou apenas, pobre diabo, tentando ajeitar as coisas. Os deuses todo-poderosos deviam ter se dado ao trabalho de criar um quarto, um homem honesto. De bom grado eu teria ido até ele. Konstantinus Kavafis

14/04/2010

como se não bastasse

No texto da semanada escrevi como se não bastasse duas vezes quase seguidas. Como se não bastasse não saber escrever bem e como se não bastasse não saber bem onde por as vírgulas, ainda por cima consigo repetir este como se não bastasse bastas vezes. Fónix.
Entre o meio-sono meio-sonho chegaste mansinha e, devagar, pousaste um arco-íris no meu corpo, separaste-me da razão e pintaste-me em sete cores, deste-me o vermelho paixão viva em mim, o laranja fogo em ácido temperado, o amarelo quente e sensual, depois o verde vigoroso da natureza, o azul sonho grave e eterno, o indigo tranquilo e fresco e, por fim, o violeta mistério irresolúvel em que me encontro. Neste meio-sono meio-sonho tu foste a melodia que me despertou.

11/04/2010

semanada

Esta tem sido uma semana de malucos, mais que não seja porque o Benfica não ganhou um jogo, o que só por si torna esta uma semana muito invulgar, mas como se não bastasse, no pouco tempo disponível, ainda consegui reter duas ou três curiosidades que me deixam com bastante fé na humanidade. Em primeiro lugar, continua a saga contra o grande Papa açorda de cu-entrada da Igreja dos Católicos Romanos que também são apostó-li-cus de vocação e alguns só simpatizantes assim de lado. Como se não bastasse, agora surge uma bela rapariga que editou um livro chamado Sim sou Virgem. E então? Esta virgem de 27 anos que edita esta preciosidade, apesar de não ter lido mas assumindo o direito de imaginar, não deve explicar é se a virgindade corresponde só aquela coisinha que as mulheres têm dentro do pipi, tipo aquelas cenas que se colam aos frigoríficos, ou se corresponde a todos os orifícios da menina, porque nestas coisas nunca fiando, até um pensamento pode criar um buraco negro do tamanho do universo. Quem leu que me elucide por favor. Mais ao lado, outra notícia estrondosa foi o facto de uma outra inocente rapariga quase ter asfixiado o namorado no enorme par de balões que tem no lugar das mamas, o que só prova que para atingir o éden nada como uma contida penitência aos pés, ou mãos, ou melhor mamas, nas trombas de um tipo. Claro que ainda temos o congresso do PSD, mas acho que não devemos abusar.

03/04/2010

peso 2

Pesa mais, pesa mesmo mais. Pelo menos na balança.

02/04/2010

peso

O meu Benfica começa a desesperar, ao excelente e dominador futebol sucedem-se falhas incríveis à frente da baliza, e de possíveis goleadas ao Braga e ao Liverpool passa-se a vitoriasinhas difíceis ou comprometedoras. Vamos lá a acertar com a baliza gente. Entretanto, hoje, é dia de orgulho por aqui, o meu puto tem a grande estreia com a camisola do glorioso, vamos lá ver se realmente pesa tanto como dizem.