31/07/2010
ao zé toino
E o tempo age,
solta as amarras e leva tudo,
o que foi, o que é e o que será.
E a noite leva a luz,
e o vento leva o pó,
e o pó leva histórias,
e as histórias espalham-se,
e o mar leva os grãos,
e os grãos desfazem-se,
e o tempo leva tudo.
E o tempo age,
e os poetas inventam,
e as palavras são vazias.
Porque o céu é apenas o céu,
o mar apenas o mar
e a terra apenas a terra,
porque uma palavra é, tão só, uma palavra,
e por muito que queira ser uma árvore,
não sou,
por muito que quisesse ser um rio,
não sou,
por muito que gostasse de ser a lua,
essa que os lunáticos gostam de enfiar nos poemas,
não sou,
e o tempo leva tudo,
as palavras também.
E o tempo age,
olá se age,
marca-se no corpo,
marca-se na alma (o que quer que esta seja)
e leva tudo,
leva a inocência,
leva a pujança,
leva a virilidade,
leva a saliva que nos faz dizer
e mata a sede,
e se isto for uma metáfora,
que seja boa e a possas embrulhar e oferecer a alguém,
e, já agora, leva o sentido que eu não quero,
porque o tempo leva tudo.
Se me deixar só um bocadinho da tua memória,
talvez consiga ser um pouco mais.
E o tempo agiu.
07/07/2010
parabéns
O patrão farto das faltas ao trabalho às segundas-feiras de determinado empregado que gostava muito de beber diz-lhe,
Ó homem mais uma segunda que faltou, assim não pode ser.
Morreu-me um familiar Sr. Carvalho, responde.
Morrem-lhe muitos familiares às segundas-feiras, diz o patrão.
Sim Sr. Carvalho é verdade, e tenho cá a impressão que na próxima semana vai morrer outro.
Esta estória e, principalmente, o contexto e a forma como é contada define o meu Pai, que faz hoje 70 anos. Agora imaginem 60 anos, começou a trabalhar aos 10, de estórias verídicas como esta, dava um belo conjunto de micróbios, vermes, parasitas, qualquer coisa assim.
02/07/2010
e ignoram meu ofício ou minha arte
Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.
Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte.
Dylan Thomas
01/07/2010
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