11/02/2011
o homem lírico
Gostava que a palavra fosse sempre um poema.
Como um verso cruzado, emparelhado, interpolado, encadeado, esfolado,
numa rima solta e a lua como pano de fundo,
mais ou menos assim:
procura o refúgio na tempestade
nos ventos que são tornados
na lua a eternidade
e as palavras que são achados.
Mas não é.
Neste caminho troco os passos no ritmo que desafina,
e, como uma nota deslocada, tusso a meio do pensamento.
As emoções exprimem-se como um catarro descontrolado,
o eu mais interior que se abre ao universo físico,
espiritual também, com a alma e o karma dentro e tudo.
A existência em todo o seu esplendor glorificado
e a insignificância o sentimento que a tosse acorda,
e cospe assim:
oh tempo que desatina
num frio que faz tremer
neste catarro que ensina
que às vezes a dor faz doer.
Neste divagar perco o meu eu interior,
os meus pensamentos mais íntimos.
Resta-me a esperança que a constipação passe.
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