Não percebo nada de melhores nem de estrelas, mas este foi o que mais gostei de ler este ano.
Rainer Maria Rilke a Lou Andréas-Salomé
Todos sabemos que o destino não tem destino,
sabemos que o destino passa frio
numa rua escura,
num deserto habitado apenas pelo vento.
Só não o dizemos a ninguém,
preferimos calar que o destino
anda dentro dos bolsos da noite,
preferimos escondê-lo na tristeza
snobe dos escritores de canções.
O destino, essa cadeia infame que nos prende,
nos adestra e nos mantém
morrendo para dentro de um poema.
Todos sabemos que o futuro não tem destino.
É esta a razão da nossa trajectória:
a seguir a cada argumento,
uma vaga precavida de calor
para que nos comportemos bem
à porta da sabedoria.
Todos sabemos que a medida do destino
é o fumo esvaindo-se no ar,
o ar adaptando-se aos pulmões,
os pulmões crescendo para fora do peito,
quebrando os ossos.
Henrique Manuel Bento Fialho
2 comentários:
Obrigado. Engraçado teres escolhido este poema. É dos que está na origem do livro. Acho que foi mesmo o primeiro que escrevi a pensar na possibilidade do livro.
Não há nada para obrigadar :)
versos como estes ajudam a respirar.
E se calhar a escolha não foi tão casual quanto isso.
Enviar um comentário