28/01/2013

esquizofrenia colectiva

Grandes notícias de ontem, as 20 mil embalagens de antidepressivos vendidas por dia e o acidente de autocarro numa qualquer estrada de Portugal. Não parecendo relacionadas, são mais do que superficialmente se possa pensar. Nos últimos anos, principalmente desde o aparecimento dos canais de televisão privados, o paradoxo entre a cultura big-brotheriana/morangos com açucar, redes sociais e afins e a exploração mediática dos acidentes das crianças que morreram nos aquaparques, de entre-os-rios ou o de ontem por exemplo, tudo isto aliado ao paradoxo ainda maior, porque diário, da ficção do crédito e da realidade do pagamento, e se a isto tudo se juntar essa fantasia pseudo-pós-moderno-auto-motivadora de afirmação da personalidade e do ego que é o facebook, através de uma exposição pública da vida privada, faz com vivamos numa sociedade no mínimo esquizofrenoide.
Alheado das notícias, uma amiga perguntava-me se não tinha pena, como essa amiga costuma dizer, penas têm as galinhas, disse-lhe que lamentava claro, mas que me faz impressão e até nojo uma sociedade onde um simples acidente se torna um assunto mediático desta envergadura e que, no fundo, esta mediatização acaba por ser uma falta de respeito pela tragédia individual e única de cada pessoa envolvida no respectivo acidente, isto para já não falar da imediata procura "justicialeira" de responsáveis.
Como é possível não andarem todos a dar nos antidepressivos, numa sociedade fantástico/fantasiosa e imatura como esta, que depois, com toda a naturalidade da força da realidade, se revela em todo o seu esplendor de dificuldades, acidentes, catástrofes.
Como diria o outro: "É a vida pá." E a vida não são só fotografias bonitas e frases feitas do facebook.

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