23/05/2008

Ainda o tempo

Começou a Primavera e tudo parece mais claro e intenso, olho os meus plátanos de braços abertos, ainda despidos, tento um contraste com o gelo cristalino de Takk, e sinto-o derreter, desfazendo-se em gotas de água límpida. Nesta noite morna alcanço tudo e a ti também. Esqueço o desassossego, a ânsia, a abstracção e até o tédio, deixo-me seduzir, embalado pelo vento que é brisa suave, estendo os braços aos plátanos defronte de braços estendidos, e tento o abraço que sonho, faz tempo, da minha janela. Aperto-os contra o meu peito e começamos a dançar. Sinto os teus olhos, que me espreitam. Sinto os teus pés, que são chão. Sinto os teus ouvidos, que me escutam. Sinto a tua pele, que é alma. Sinto os teus braços, que me afagam. Sinto o teu hálito, que é boca. Sinto o teu coração, que é tudo. E o pensamento, que te entrega assim.

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