Oh! Que triste deriva sem esperança,
encalhado num porto sem abrigo.
Tu dizes que o tempo o tempo alcança,
mas aqui estou sozinho e não contigo.
Neste espaço pego na contradança,
acerto o passo com o passo que consigo.
Tu gritas, tudo é composto de mudança,
mas a vontade é desejo e não castigo.
E se com a idade o tempo pesa e cansa
e o barco, desnorteado, fica perdido,
amanha-se uma réstea de confiança
e solto as amarras a que me obrigo,
abro as velas ao vento e o vento sigo
e, assim, sou o mar me amansa.
José Paiva
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