08/09/2009
fados
Umas semanas atrás num concerto da Ana Moura, conheci um extraordinário Senhor de 90 anos que, apesar de sofrer de Parkinson, veio da Amadora até Corroios para assistir ao espectáculo.
Depois de alguma conversa, vim a saber que além de ter uma escola de fados ainda em actividade, também era produtor e já tinha escrito várias letras para muitos cantores bem como crónicas para jornais e revistas. Mais exemplar é o facto de continuar a fazê-lo apesar da doença, de forma engraçada e brincando com aquele destino lá me foi dizendo que tinha um despertador para se lembrar de tomar os medicamentos entre outras coisas.
Depois de saber que eu também era músico convidou-me para escrever canções, pois faria gosto em as apresentar a alguns cantores conhecidos. Nunca fiz um fado na minha vida mas, no dia a seguir, fiz duas letras de rajada, a música é que me anda a custar um pouco mais, não porque me pareça difícil mas porque ando um pouco irritado com a guitarra e as cordas mais as cordas desafinadas da vida e um fado irritado não me pareça uma boa opção. Talvez um punkfado ou fadopunk até não fosse uma má ideia, mas, para já, falta-me o génio e, para depois, talvez até o engenho.
Sim, talvez.
SIM
Sim, confesso o meu destino
E os passos que dizem ser sorte
Sobre esta guitarra em tom fino
Canto a vida e o caminho para morte
Sim, digo os segredos que quero
E as histórias que não esqueço
Neste fado em que espero
Ser tudo o que enfrento e pareço
Nem anjo ou vilão
Nem amor ou razão
Nem triste ou sério
Nem claro ou mistério
Só a voz que Deus me deu
Sim, sou a voz que canta
Os versos, as preces, a solidão
O sorriso de uma criança
Estas pedras que são chão
E se o mundo ainda se espanta
Com esta música que é dança
Abro o peito na ilusão
Que a vida também é mudança
Nem anjo ou vilão
Nem amor ou razão
Nem triste ou sério
Nem claro ou mistério
Só a voz que Deus me deu
Sim, confesso o meu destino
Sim, digo os segredos que quero
Sim, sou a voz que canta
A vida também pode ser mudança
TALVEZ
Talvez não possas amar assim
Sem meus olhos nos teus
E tudo o que buscas em mim
É a lágrima que se perdeu
Não sabes esperar
O tempo que não tem fim
Nem as falhas que já escondeu
Talvez não possas amar assim
Sem certeza nem condição
E tudo o que queiras de mim
É a frase que diz paixão
Mas o que não sabes
São as palavras que esqueci
Nem o aperto no coração
Por isso parte
Na descoberta que já perdi
Por isso parte
Que talvez não possas amar assim
Talvez não possas amar assim
Sem medo nem liberdade
E tudo o que procuras em mim
Seja um esgar de felicidade
Mas não podes saber
O espaço que não tem fim
Nem o tempo sem idade
Talvez não possas amar assim
Sem o fado que não sei
E o que precisas de mim
Seja tudo o que abandonei
Mas não podes esperar
Pelas palavras que já esqueci
Nem o destino onde me fiquei
Por isso parte
Na descoberta que já perdi
Por isso parte
Que talvez não possas amar assim
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