16/04/2010
dar-se ao trabalho
Sou quase um vagabundo, sem um tostão.
Esta cidade fatal, Antioquia,
devorou todo o meu dinheiro:
esta cidade fatal com sua vida extravagante.
Mas sou jovem e tenho excelente saúde.
Prodigioso mestre de grego,
conheço Aristóteles e Platão de ponta a ponta,
bem como qualquer orador, poeta ou outro autor que se possa mencionar.
Em assuntos militares não sou ignorante
e tenho amigos entre os funcionários regulares mais velhos.
Tenho também um certo conhecimento de questões administrativas.
Passei seis meses em Alexandria no último ano;
uma coisa que sei (e isto é útil) sobre o que acontece por lá:
a corrupção e a sujeira e tudo o resto.
Portanto creio que sou inteiramente
qualificado para servir este país,
minha amada pátria, a Síria.
Em qualquer trabalho em que me coloquem me esforçarei
para servir meu país. Esse é o meu propósito.
Mas, de novo, se me entravarem com seus sistemas –
nós os conhecemos, esses sabidos: precisamos falar disso agora? –
se me entravarem não será culpa minha.
Procurarei Zabinas primeiro,
e se aquele idiota não me der valor,
irei ao seu rival, Gripos.
E se aquele imbecil não me der uma mão,
irei imediatamente a Hircano.
De qualquer modo, um deles me quererá.
E a minha consciência está quieta
acerca de minha indiferença à escolha:
todos os três são danosos à Síria na mesma extensão.
Mas – homem arruinado – não é culpa minha.
Estou apenas, pobre diabo, tentando ajeitar as coisas.
Os deuses todo-poderosos deviam ter se dado ao trabalho
de criar um quarto, um homem honesto.
De bom grado eu teria ido até ele.
Konstantinus Kavafis
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