16/04/2010

midletown

Sobes no elevador elevando o corpo mas não os sonhos. Na subida conheces uma pequena mulher Japonesa, saia curta, óculos redondos, sorriso genuinamente feliz, onde procuras numa espécie de inglês a receita da felicidade. Chegas ao cimo sais, despedes-te e ela sorri novamente, atrás as portas fecham-se encerrando com elas uma percepção de felicidade. No cimo do Empire State Building olhando a imensidão da cidade. BRUNO Já viste a imensidão? JACK Sim, visto cá de cima parece-me tudo bastante sereno. BRUNO Sereno? JACK Sim. Tão imenso que as casas não passam de casulos, os carros as asas e as pessoas pequenos insectos. BRUNO O quê? JACK Então não vês? Visto daqui até os carros são quase todos amarelos. Quais abelhinhas para cá e para lá e também alguns zangões pretos. Não vês? Uma mancha amarela vivo confunde-te, não são raios de sol mas indianos, paquistaneses, turcos, mexicanos, colombianos e sei lá que mais, conduzidos pelos táxis amarelo vivo. Bela cor esta que te tira um esgar de sorriso, que perdes rapidamente na mediania indiferente que figuras. BRUNO (ri-se) És louco. (riem-se os dois) JACK (sarcástico) Ovelhas de poderes fictícios, olha ali vai uma negra. Mascaramos a nossa animalidade nesta azáfama. BRUNO (ainda a rir) E tu és o quê? E nós os dois somos o quê? JACK Animais racionais, julgamo-nos inteligentes e não sabemos apreciar a natureza, a única coisa real que temos. Queremos o quê, segurança? BRUNO Sim, porquê não? JACK Olha, porque estamos aqui tão seguros da nossa pseudo-segurança cai um calhau na terra e acabou. Finito. (sorri) BRUNO Um calhau? Essa é boa mas não é novidade, já caíram vários e voltarão a cair, mas entretanto achas que devemos ficar a olhar para o céu à espera do calhau não? JACK I not my dear, I not. BRUNO (sério) Porque não podemos ser só uma massa desconfiada de nós mesmos, devorada por uma razão demasiado consciente. Não disseste que éramos animais, então sejamos animais em toda a nossa bestialidade, comendo, bebendo, mas também rindo, chorando. JACK (interrompe alegre) Fodendo parece-me bem. Onde vamos logo à noite? BRUNO (ri-se) Tu! Voltas ao passeio sem calçada, na apatia és mais um entre muitos, mas sabes que do alto do Empire State Building não foste mais que uma Midletown de ti próprio.

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