23/01/2013

o homem romântico


Sempre vi a vida como um romance romântico sempre presente.
Como uma paixão apaixonada assolapada e assolapando tudo e todos,
que arrebata, que assusta, que vibra, que se empenha,
que destapa a verdade na crueza da carne e o sentido no toque da pele.
A paixão o desnorte bravio de uma gota num ciclone.
O amor uma lágrima parida na ausência do ego,
estatelada na distância de todas as coisas do mundo
e o desejo o elo natural que liga o espírito.


Mas não é.
Nesta contradição, desapareço no ridículo da minha ansiedade,
e, como um fantasma sem corpo,
procuro respirar mas falta-me a boca.
Sem saber como nem porquê, fazem-me uma pergunta:
Estás branco, que se passa?
Olho ao redor espantado,
tento ver-me e não consigo.
Branco como se não me vejo,
se não vislumbro um pedaço de mim que seja?
Podias dizer que sou baixo, alto, grande ou nem por isso, que sou todo bom,
bombeiro, homem do lixo, lixo, doutor, engenheiro, político, parvo, asno,
magro, gordo, feio, o sol na terra, a tempestade no mar, o mar sem sal,
um tadinho coitado, um vilão, garanhão, um herói super, um super tudo, um super nada,
que o vazio é o lugar onde não me encontro.
Largo o palavreado hipérboleufemisticado e começo a procurar-me,
vagueio por todo lado e por lado nenhum porquê não me sei onde.
De repente, dá-me uma comichão nos tomates e bato com os cornos no chão.
Acordo.

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