31/10/2009
solo
Então, o futuro é onde me fixo, onde sempre me fixei,
é o espaço onde me fico e transformo,
é onde derivo contra o vento e contra o mar,
e, na frescura da espuma, lavo as memórias,
e, na espuma da brisa, levo os pensamentos,
é onde me ergo arregaçando as mangas,
e, na estrada que é caminho, sigo
e, no caminho que é espaço, escrevo,
é onde a sombra se dobra e esconde,
e, na paz do silêncio, digo,
e, no silêncio da luta, faço,
é onde a beleza se abre,
e, no espaço que é tempo, sou,
e, no tempo que é tudo, desisto.
Neste futuro nada proclamo e muito calo,
uma vida toda,
talvez mesmo a vida toda,
passado, presente e futuro,
ser só palavra não é enredo,
ser só abstracção não é nada,
ser só sonho não é arte,
ser só ilusão não é vida,
ser só folha não é livro,
ser só é ser sozinho.
E, nesta certeza, asseguro que o futuro,
além de, na realidade, não existir,
cada vez está mais próximo do fim.
Assim sou eu nestes dias,
asfixio neste tempo que desfaço.
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