08/06/2010

mordendo a própria língua

A filosofia salvou-me a vida. A verdade é que não sou homem a quem a sorte tenha bafejado. Se uns nasceram com o cu voltado para a lua, e outros com o rei na barriga, eu nasci com o cu voltado para a crosta terrestre e pedras nos intestinos. Vivo entre dois pólos, é certo, pelo que me considero metade urso, metade pinguim. Mas a filosofia salvou-me a vida, ajudou-me a olhar o mundo com outras perspectivas, ajudou-me a fintar o azar, ou a má-sorte, se é que me faço entender. Noto isso nas coisas práticas da vida. É um facto que não tenho sorte alguma, mas também não deixa de ser um facto que, não tendo sorte alguma, aprendi a driblar a sorte com a filosofia. Texto integral aqui http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/2010/06/erros-meus-ma-fortuna-ilusao-ardente.html Quando alguns músicos contam histórias mirabolantes sobre como conseguiram atingir o sucesso, ou fama, ou o que quiserem chamar, a minha realidade misturada com o meu sentido prático desconfia. Falando só de portugueses, lembro-me de um que diz que estava a tocar na praia para os amigos, passou um gajo de uma editora e tumba, contrato feito. Lembro-me de outro que vendeu um piano para gravar um disco e catrapumba, milhares de exemplares do mesmo vendidos. Ainda me lembro de outro que acho que é o mesmo, que fez uns dedos do meio ao Cavaco num concerto na Costa de Caparica e a seguir pum pum cada bala mata um, a ponte parou com tiros e tudo, resultado, mais uns milhares de discos vendidos. Outro, este mais perto de mim, conta a história do desgraçadinho, que o pai lhe partiu a primeira guitarra, que as dificuldades eram assim e mais assado, mas que ele pontapeou sempre esse estigma com uma grande dedicação e uma vontade ainda maior (oh que caralho a puta da vontade) e superou tudo e todos, a tal ponto que todos foram fugindo dele e ele fugindo de quem deve dinheiro, apesar de não lhe faltar. Eu também já contei algumas histórias da carochinha, já toquei na praia, bem como noutros locais públicos, nunca tive um piano para vender mas já troquei cromos valiosos, a vontade, essa grande puta, ainda não me faltou, também devo dinheiro, mas só às finanças que os outros não têm culpa da minha falta de sorte. Com tudo isto e mais algumas, o sucesso não quer nada comigo, ver se vou à TV, espantalho-me pelo chão e parto alguns dentes mais uma fractura exposta da tíbio-társica para ver se tenho sorte. É verdade, há sempre aquela coisa do talento, mas por aí os caminhos ainda me parecem mais estranhos e os karmas mais bizarros. O que é que me resta fazer?

1 comentário:

hmbf disse...

:-) e há o álvaro de campos, que só tinha amigos heróis mas se fartava de levar porrada