Fernando Ulrich explicou-se à canzoada e logo saltou das pedras, com a inelutabilidade do hábito, uma legião de gnomos pronta a “contextualizar” o banqueiro. Que era “uma verificação da realidade”. Que Ulrich se limitou, em “puro bom senso”, a discretear sobre o talento humano “para aguentar o sofrimento”. Enfim, que o homem “tinha razão”.
E tinha.
Não nos é difícil supor que Fernando Ulrich “aguentaria” passar noites ao relento a beber água de um charco e a vasculhar lixo doméstico mesmo que um colega de infortúnio lhe partisse a cremalheira. Se contraísse tuberculose, ou febre da carraça, “aguentaria” entre meses e anos de sã indiferença liberal. Se por outro lado fosse garroteado, esquartejado ou guilhotinado pelo povo amável a que dirige as suas prédicas talvez o esperassem alguns minutos de estrebuchamento — mas o Homem, já diziam os árabes, está tão próximo da morte como a camisa do corpo, e também isso é “aguentar”. Estamos portanto de acordo quanto ao alcance prático da palavra.
Já o alcance político merece outro tipo de interlocutores. Escrevo “interlocutores” em vez de “análise”, “crítica” ou “meditação”, porque me parece infrutuoso maçarmos a direita portuguesa com os abalos da nossa revolta moral.
A direita é aquilo, e acabou-se a conversa. Com Isabel Jonet ou Fernando Ulrich, com punhos de renda ou moca ribatejana à ilharga será sempre uma agremiação arcaica de senhores feudais e criadagem servil disposta a atravessar-se pela bem-aventurança dos “meninos”. A única razão que conhece é a força, o único diálogo que trava é com os seus pares, a única ideologia que respeita é o esclavagismo.
Não está ao nosso alcance converter Ulrich, ou envergonhar Ulrich, apenas escorraçá-lo.
Luis M. Jorge
aqui: http://declinioqueda.wordpress.com/2013/02/03/o-esclarecimento/
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