11/01/2009
Faço o mundo em orações sempre subordinadas.
Tudo o resto são morfologias e sintaxes imperfeitas,
pontuações incertas, inconstantes e imprecisas,
figuras de estilo ou recursos estilísticos sem recursos.
A estas folhas de faltas fátuas submeto-me, só,
subordinante branco alvo, alvo de paz dissonante,
discordante desarmonioso de palavras que desconstruo.
Assim, neste Latim donde venho vejo-me Grego,
qual Pessoa ou Kavafis, nesta Odisseia, que não sou.
E tento, muito, aprender apreendendo o todo que posso,
recomeçando, sempre, de um nada pesado
para um nada carregado que sei que sou que sinto.
E o erro é o certo centro da cegueira neutra do zero,
implacável fardo calçado nas costelas do raciocínio,
reiteração alegórica, absurdo hiperbólico desesperado.
Nesta nulidade que sou, recomeço da nulidade que fui para a que serei,
sem esquecimento que a razão não deixa, o trilho cansa.
O todo que posso pesa e, tento, muito, descansar.
Procuro o meu eido ermo, onde em silêncio me deito.
Aparto as sombras, todas, os desejos que não sei que tenho,
os palácios que construo, as aventuras que desconheço,
a brisa leve que amo, as notas que desafinam e os barcos que perco.
Calo todas as palavras que são frases que quero verso em prosa,
todas as metáforas que são estrofes sem poemas,
e todas as virgulas, interrogações, reticências e pontos,
que pontuo confuso na confusão da minha incerteza.
Em silêncio desfaço-me, qual livro branco desnudo-me e deito-me.
Desvanecendo desvaneço-me nesta aurora entardecido.
Replico provas, provadas em prosas arcaicas, de incapacidades sinceras,
mendigo recomeços falhos.
E, também, silêncios escusos, escuros, de sombras e palavras.
Harmonia de contradições contrapostas de mim por mim para mim,
assim,
sem fim,
sem arte,
sem Outono,
sem chuva,
sem som,
sem céu,
sem orações,
sem subordinante.
Só, subordinado figurativo que figuro, tombo em sintaxes erradas,
em paradoxos sem resolução, ironia imutável que interpreto.
Neste palco, capitulo desvanecendo-me, destoado sem sorte.
O mundo é esta roupa que visto e me cai mal.
É Inverno, em mim também, frio que tenho que sou,
geada gélida gelando o gelo que sulca a vida,
aflora a pele e entra penetrando carne dentro,
num encontro interior de glaciares, orgia de frio nas entranhas.
Como as árvores despidas,
tolhidas pelo Inverno frio que sei que faz que sinto,
qual folhas caídas,
dispo esta roupa,
que é o mundo que dói,
e suporto esta existência nula.
Resignado estou a esta sensação de gelo
que a razão e a epiderme obrigam-se a suster.
Exposto, nu, vazio, cansado, submisso ao tédio que o frio não apaga.
Assim,
vou respirando ao acaso de uma pontuação irregular,
feita de geadas e Invernos frios,
ou, como no início deste desacerto, de desassossegos e ânsias sem vento,
mas também de paisagens e pensamentos,
de silêncios e sensações,
e sonhos claro, sempre os sonhos,
todos os sonhos, os que transbordam e os que ficam,
neste tédio que sou.
Está frio, com o dedo desenho espirais sem nexo
nesta minha janela embaciada pela humidade gelada,
em voltas alheias apago o orvalho e, no vidro,
vejo uma sombra,
a minha janela sou eu.
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